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A Comissão Nacional da Verdade do 8/1

Quando Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, houve quem sugerisse a instalação de uma Comissão da Verdade sobre a corrupção da era PT. Seria uma forma de manter aceso o clamor popular por moralidade pública e consolidar avanços institucionais obtidos pelas operações anticorrupção do período. Sistematizar as diferentes investigações, seus resultados práticos, tirar lições e, quem sabe, até buscar responsabilidades não apuradas, tudo isso teria um potente efeito pedagógico próprio de iniciativas do gênero, atraindo a atenção da mídia e, por consequência, da sociedade.

Infelizmente, a ideia foi parar no fundo de alguma gaveta mental e o que vimos nos anos seguintes foi justamente a reação do ‘deep state’ para reescrever essa mesma história, passando a borracha em condenações, reabilitando corruptos e mudando a lei para fazer a sociedade retroceder a um estado de barbárie. Vivemos hoje sob o jugo dos imorais, a República foi fraturada e a lei do silêncio impera — quem tenta rompê-la pendura um alvo nas costas. Mas não se enganem: nenhuma sociedade tem condições de avançar no processo civilizatório, ou mesmo sobreviver, com o atual nível de desarranjo institucional.

Sair desse beco requer uma boa dose de coragem e estratégia, além de uma ampla união social capaz de incendiar as ruas, como em 2013. O gatilho desse processo, ironicamente, pode estar na decisão de Arthur Lira que criou uma Comissão Especial para adiar o debate do PL da Anistia na Comissão de Constituição e Justiça. Ninguém, de fato, acredita que o presidente da Câmara tenha tomado tal medida para reverter o caminhão de injustiças e violações de direitos humanos que vêm sendo perpetradas contra os patriotas, sejam vândalos ou não.

Lira só pensa na sucessão e o tema havia se tornado um bode na sala. Agora todos podem voltar à função de contar votos para eleger Hugo Motta, que não dá um pio sobre todo esse enrosco para não melindrar seus apoiadores, estejam eles no PL ou no PT.

Resta à oposição fazer do limão uma limonada, tomar o controle da Comissão Especial e transformá-la numa espécie de Tribunal Popular, onde a viúva de Clezão possa detalhar a omissão de socorro do Judiciário, onde ecoe o apelo desesperado dos filhos da cabeleireira Débora Rodrigues, presa por desenhar com batom o bordão “perdeu, mané!” na estátua da Justiça; onde possam ser escrutinadas as condenações sumárias de deficientes mentais, vendedores ambulantes e idosas doentes. Quem sabe ouvir ‘Fátima de Tubarão’, que espalhou suas próprias fezes no STF, ou Antônio Cláudio Alves Ferreira, que destruiu o relógio de Balthazar Martinot, pode nos ajudar a traçar um perfil mais claro dos vândalos… Haverá espaço até para que os advogados detalhem o tratamento dispensado a seus clientes e a si próprios.

Se a CNV produziu um grande livro sobre violações aos direitos humanos durante o regime militar, a nova CNV tem potencial para gerar uma enciclopédia. Mãos à obra!

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Claudio Dantas

Claudio Dantas

Respostas de 2

  1. Três eventos que vão ficar nos chocando com suas revelações até que seus atores acessem o infinito, e tudo entre para a história. A lava jato, o crime originário, a vaza jato o segundo crime para se livrar do primeiro e o 8/1, uma tentativa de emporcalhar mais o que já havia se estragado. Cada um que se apegue onde puder, eu fico com a esperança da passagem do tempo como purificadora.

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