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Vacinas da Covid salvaram 2,5 milhões vidas, mas vacinados morreram mais por outras causas

John Ioannidis é um cientista médico greco-americano que não pode ser acusado de falta de honestidade intelectual. Ele é conhecido por ter publicado em 2005 um artigo com o título “Por que a maioria das descobertas de pesquisa publicadas são falsas”. Sua reputação foi construída sobre ceticismo e postura crítica contra as próprias publicações científicas.

Durante a pandemia, Ioannidis se opôs aos lockdowns — ele tem um histórico de ceticismo acertado. Na última década, Elizabeth Holmes, fundadora da Theranos, arrecadou 945 milhões de dólares ao prometer revolucionar a medicina com testes laboratoriais feitos com uma única gota de sangue. Imitando Steve Jobs e falando grosso em seminários, enganou muitos investidores. Ioannidis foi um dos primeiros a duvidar dela. Desde maio de 2023, Holmes está cumprindo uma pena de 11 anos e três meses na prisão.

O que o cético de Stanford pensa da eficácia das vacinas contra COVID-19? Um artigo com primeira autoria de Ioannidis do mês passado, em pré-publicação, traz suas conclusões. A análise levou em conta toda a população mundial e todo o período da pandemia, até depois que a Organização Mundial da Saúde declarou o fim da emergência: 2020-2024. Também considerou a ascensão da variante Ômicron no final de 2021, que era muito menos letal.

O panorama de quem foi salvo pelas vacinas da covid

A estimativa do grupo de Ioannidis é que as vacinas da covid salvaram 2 milhões e 533 mil vidas no mundo.  Dessas, 82% foram salvas antes que se infectassem com qualquer das variantes da covid. Os principais salvos, como era de se esperar, foram os idosos: 89,6% das vidas salvas foram de pessoas com 60 anos ou mais.

Com a margem de erro, as mortes evitadas foram entre 1,4 milhão e 4 milhões.

O total de vidas salvas equivale ao total da população de Belo Horizonte. Imagine a capital mineira completamente vazia. “A terra morreu com a perda daqueles que a deixaram: é como se eles tivessem sido sua alma”, como relatou o historiador persa medieval Ata-Malik Juvayni sobre a cidade de Nishapur, no atual Irã, que teve a população dizimada em 1221 por Gengis Khan. O número de mortos dado pelo historiador era uma superestimativa (1,747 milhão), mas inferior ao de vidas salvas pelas vacinas da covid. Não é pouca gente salva.

Salvar idosos é diferente de salvar jovens, pois os dois grupos etários têm diferentes tempos de vida pela frente. Para levar isso em conta, o artigo também calculou anos de vida salvos: é o número estimado de vidas salvas multiplicado pela expectativa de vida restante. Foram salvos 14,8 milhões de anos de vida. Com a margem de erro, entre 7,4 milhões e 24,6 milhões de anos de vida. Mais uma vez, os idosos foram os principais beneficiados (76%), mas pessoas de meia idade, entre 40 e 59 anos, ganharam 20,6% desse total. Importante: a proporção de anos de vida salvos para idosos em asilos e casas de repouso foi somente 2%.

O estudo de Ioannidis e colegas corrobora que a necessidade de vacinas contra covid para crianças e adolescentes, especialmente a obrigatória ainda implantada pelo governo Lula 3, foi muito questionável. Crianças e adolescentes foram somente 0,01% das vidas salvas, e 0,1% dos anos de vida salvos. Os adultos mais jovens, entre 20 e 29 anos, foram 0,07% e 0,3%, respectivamente.

Qual é a importância geral das vidas salvas no contexto da pandemia? Infelizmente, só a 1% da mortalidade global total no período analisado. Para cada 5.400 doses de vacina contra covid aplicadas, uma morte foi evitada. Para cada 900 doses, um ano de vida foi salvo.

“Poder-se-ia argumentar que a vacinação de indivíduos mais jovens pode ter diminuído a transmissão para os indivíduos mais velhos e mais vulneráveis”, comentam os autores. “Contudo, a eficácia das vacinas com relação ao risco de infecção foi modesta e decaía muito rapidamente”.

Os cientistas direcionam uma bronca para as autoridades e as pessoas que superestimaram a eficácia das vacinas contra covid: “A comunicação falsa de que a vacinação pararia a transmissão de forma importante pode ter saído pela culatra. A compensação do risco com maior exposição devido à falsa sensação de segurança pode ter resultado até em uma disseminação mais alta do vírus”. Não só a mensagem exagerada positiva sobre as vacinas ajudou nessa falsa sensação de segurança, mas também políticas fracassadas como as máscaras obrigatórias.

Apesar de dados de alta qualidade sobre mortes por efeito colateral das vacinas contra covid serem escassos (estudos randomizados e controlados foram escassos), Ioannidis e colegas oferecem nos apêndices de seu estudo uma análise dos efeitos colaterais mais estabelecidos: trombose, miocardite e mortes em idosos muito debilitados em asilos. Eles estimam que as mortes por esses efeitos colaterais “são provavelmente duas ordens de magnitude menores que o benefício geral”. Em outras palavras, os autores pensam que, considerando as mortes, os benefícios foram 100 vezes maiores que os malefícios das vacinas.

Estimativas do total de mortos por covid variam entre 14 milhões e quase 20 milhões — a estimativa maior vem do excesso de mortalidade, que desconta o número esperado de mortos por outras causas que não são a covid, mas mistura as vítimas de outras coisas relacionadas à covid, como a vacinação e os lockdowns, e foi feita pela revista The Economist.

Passado o pior da pandemia, vacinados contra covid morreram mais

Existe uma ferramenta de IA dedicada a resumir consensos científicos, o Consensus.app. Se você pergunta se os vacinados contra covid morreram mais que os não-vacinados, o robô, citando 13 fontes, diz que “não” e dá 100% de consenso para essa resposta.

Mas isso é porque ele presume que “morrer mais” é “morrer mais de covid” — se fosse essa a pergunta, o robô estaria certo. Quando eu ajusto a pergunta para “os vacinados contra a covid morreram em maiores números em mortalidade por todas as causas do que os não-vacinados?”, a resposta se referte: é sim, com 82% de consenso, com 17 fontes. O resumo do robô, contudo, parece sofrer de algumas alucinações.

Uma das fontes citadas eu já conhecia e usei em um capítulo de livro sobre a coerção estatal aplicada às vacinas. Um estudo publicado por quatro cientistas italianos na revista F1000Research, que usou como base 52 milhões de britânicos de status vacinal registrado pelo governo do país, concluiu que sim: na mortalidade por todas as causas, os vacinados contra covid se saíram pior.

O período considerado foi abril de 2021 a maio de 2023. No começo, como esperado, os não-vacinados estavam morrendo em maiores números. “As pessoas vacinadas com uma dose mostraram um risco relativo significativamente maior que 1 durante quase todo o período e em qualquer dos grupos etários, exceto no grupo dos 18 aos 39 anos, no qual foi significativamente maior por metade do período”, explicam os autores. O valor “1” é importante porque é uma fração: risco de morrer dos vacinados sobre o risco de morrer dos não-vacinados (isso é o “risco relativo”). Se o valor for 1, então os riscos são iguais. Se for maior que 1, então há maior risco nos vacinados. (Por “risco de morrer” entenda a proporção desses grupos que de fato morreu.)

Quando os pesquisadores olharam o grupo que tomou três doses, encontraram que “o risco relativo foi incrivelmente baixo”, o que sugere eficácia da vacina, mas só no início do período analisado. Depois, considerando morte por qualquer causa, o risco relativo foi crescendo “até atingir e exceder o valor de referência a partir dos 60 anos de idade”. Para os idosos com 70 anos ou mais, o risco relativo foi significativamente maior que 1.

A tendência observada na mortalidade por todas as causas foi muito similar à tendência observada na mortalidade por qualquer causa exceto a covid, o que sugere que os vacinados contra covid estavam morrendo por causas que não eram a própria covid.

Como interpretar esses resultados? Os autores não sabem ao certo. Eles pensam que é possível que seja um defeito na forma como o governo britânico, de quem cobram que a publicação dos dados de mortalidade por status de vacinação volte (foi interrompida em maio de 2023). Mas também claramente aventam outras possibilidades, como fica claro em sua mensagem final: “o princípio da precaução deve sugerir uma moratória sobre campanhas de vacinação generalizada, até que se consigam explicações válidas para o fenômeno alarmante observado”.

O artigo foi revisado por Jarle Aastard, da Universidade de Ciências Aplicadas da Noruega Ocidental, que afirmou: “uma interpretação é que a vacinação, apesar da proteção temporária, aumentou a mortalidade”.

Nenhum dos temas tratados aqui é tão fácil e diretamente tratável quanto parece: quantas vidas foram salvas pelas vacinas contra covid, quantas foram ceifadas pela doença, quantas pessoas podem ter sido prejudicadas pelas vacinas. No fim das contas, todas as respostas oferecidas acabam dependendo de modelos e bancos de dados imperfeitos.

As grandes derrotadas na pandemia, tanto do lado que exagerou os benefícios das vacinas quanto do lado que exagerou seus malefícios, foram as falsas certezas. O mundo é mais complicado do que repostas ideologizadas conseguem capturar. As respostas mais erradas do ponto de vista ético, claro, foram as que usaram de autoritarismo.

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Eli Vieira

Eli Vieira

Respostas de 2

  1. John Loannidis é uma das piores e mais enviesadas fontes que há sobre o assunto da Covid.
    Tudo que ele falou sobre a pandemia ele errou.
    Ele disse que nos EUA não iam morrer nem 10 mil pessoas, morreram mais de um milhão.
    Ele disse que medidas de isolamento não eram salutares, foram salutares.
    Ele disse que as vacinas não ficariam prontas a tempo, ficaram.
    Quando ficaram prontas, ele foi contra as pessoas se vacinarem, propondo todo tipo de conspiração infundada sobre elas…
    E ele ainda por cima é um vendido, pois se descobriu que ele recebeu financiamento de uma empresa aérea pra falar essas coisas.
    O maior estudo que existe sobre as vacinas, publicado na revista Vaccine, analisou 99 milhões de pessoas em oito países e identificou pequenos aumentos em condições neurológicas, sanguíneas e cardíacas após a vacinação. No entanto, apenas 0,00066% dos participantes desenvolveram alguma das 13 condições médicas analisadas, indicando que tais eventos são extremamente raros.
    Todo medicamento sempre terá efeitos colaterais, todavia, ainda assim, os da Covid19 superam em muito os das vacinas.

  2. Essa pandemia provou que dados e estatísticas oficiais são duramente corrompidas.
    Modelos foram comicamente errôneos; as autoridades sanitárias mostraram tanta perspicácia quanto tias do zap. Lockdowns foram tirânicos e danosos, máscaras foram inúteis, vacinas não superaram a imunidade natural, muito menos impediram a transmissão e a origem da peste foi laboratorial.
    Claro, alguns grupos estavam em maior risco, como idosos e pessoas com uma lista de comorbidades. Ao disponibilizar vacinas (desenvolvidas em 1 ano hahahaha) e terapias gênicas para a população geral, seria sensato orientar políticas públicas a esses grupos com a devida informação sobre benefícios e riscos. Porém, o objetivo era lucrar e empurrar mais medidas autoritárias, então muitos estados – patrocinados pela indústria farmacêutica – optaram por quebrar o Código de Nuremberg.
    Enfim, o resultado dessa desgraça é uma população divida, doente, “marcada” e a certeza de que basta soarem algumas sirenes para sermos jogados em uma ditadura.

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