Está em Mateus 6:24 – “Ninguém pode servir a dois senhores”. O versículo bíblico já virou adágio popular pela força da realidade contida nele. Se Hugo Motta for sábio — e sabedoria nem sempre tem a ver com inteligência e menos ainda com esperteza –, vai conduzir tranquilamente e rapidamente o PL da Anistia à sua tramitação e aprovação.
Caso não o faça, o presidente da Câmara corre o risco de perder sua autoridade sobre o plenário, ainda neste primeiro ano de gestão, o que pode ser fatal para um jovem político considerado, ao mesmo tempo, uma revelação e uma promessa. Nesse caso, a revelação será a de um líder fraco, submetido ao poder de Alexandre de Moraes e não ao desejo democrático do plenário legislativo.
Daí passará a ser visto, não como promessa, mas como dívida; e a dívida moral de Motta com Jair Bolsonaro cresce a cada dia em que a urgência da Anistia é adiada. Não só com ele, mas com os eleitores de todas as lideranças políticas que foram à Av. Paulista no último domingo, incluindo os de 7 governadores, senadores, deputados e, naturalmente, os 305 mil manifestantes que lotaram as ruas.
Motta se revelará um líder sem empatia com os 2 mil patriotas submetidos a um rito jurídico sumário e inconstitucional, condenados à baciada por crimes não individualizados, com farta ausência de provas, apenas para satisfazer a vaidade de 11 togados impopulares.
Quando concorria à Presidência, Motta foi descrito como um político afável, diplomático. São características agradáveis à mídia mainstream e à casta jurídica, pois sugerem uma certa aderência automática a protocolos intrínsecos ao exercício do poder. Mas um líder de verdade, capaz de governar 512 deputados, deve também ser firme em suas posições, claro em suas manifestações e fiel às suas promessas.
Ulysses Guimarães, emulado por Motta, repetia que a “voz do povo é a voz de Deus”. Ele também dizia que “liberdade, soberania e justiça são ideias simples, mas que construíram as maiores nações da História”. Em muitos momentos da História, como o atual, lideranças como Motta e seus colegas de Câmara, podem se sentir acuados pelo exercício arbitrário do poder jurídico.
Mas, como dizia Ulysses, a “história nos desafia para grandes serviços, nos consagrará se os fizermos, nos repudiará se desertarmos”. E, por fim, Motta, um aviso dado pelo presidente da Assembleia Nacional Constituinte e pai de nossa Constituição tão hoje vilipendiada: “A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou o antagonismo do Estado”.
Sempre.