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Se Falar é Radical, a Democracia Já Acabou

Por Leonardo Corrêa

Vice de Trump faz discurso radical e é acusado de incitar briga com Europa.” Essa é a manchete de uma matéria do Estadão de hoje. O motivo do escândalo? O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, subiu ao palco da Conferência de Segurança de Munique e ousou dizer que governos não deveriam censurar seus cidadãos nem marginalizar partidos sob o pretexto de defender a democracia. O resultado foi imediato: uma reação histérica de políticos e da imprensa, como se ele tivesse declarado guerra ao continente.

A ironia não poderia ser mais gritante. Enquanto os Estados Unidos, desde sua fundação, jamais flertaram com autoritarismos ou totalitarismos, a Europa passou por diversos. Regimes caíram e se ergueram, monarquias absolutistas deram lugar a ditaduras e até democracias promissoras, como a República de Weimar, naufragaram ao tentar “proteger a democracia” com censura. Nos EUA, ao contrário, a liberdade de expressão seguiu um caminho firme de florescimento e fortalecimento, sustentada pelo entendimento de que restringir vozes nunca foi solução – foi sempre o problema.

E, no entanto, aqui estamos. O mesmo continente que testemunhou o colapso de suas instituições ao longo da história agora acusa um americano de “radical” por lembrar a lição mais óbvia de todas: censurar ideias não as destrói, apenas as empurra para o subterrâneo, tornando-as mais perigosas. A Europa, que deveria ter aprendido, prefere repetir o erro. O método é sempre o mesmo: rotular como “perigoso” tudo o que escapa ao consenso progressista. Criticar a censura? Radical. Questionar políticas migratórias? Xenófobo. Defender o debate aberto? Fascista disfarçado. No fim, a estratégia é clara: não se combate ideias ruins com argumentos, mas sim com rótulos convenientes.

O mais espantoso é que Vance não fez um discurso incendiário, mas sim uma análise cirúrgica da erosão da liberdade na Europa. Ele citou fatos incontestáveis: um governo europeu que anula eleições por conveniência, tribunais que criminalizam a dissidência política, um sistema cada vez mais confortável com censura estatal e digital. Na Alemanha, a polícia invade casas por postagens online. No Reino Unido, rezar em silêncio perto de uma clínica de aborto pode levar a processos e multas. Na Escócia, o governo agora sugere que até orações dentro de casa podem ser um crime. Quando um país atinge esse nível de paranoia estatal, já não é mais uma democracia – é um regime que teme sua própria população.

O que está acontecendo é um fenômeno assustadoramente preocupante: o deslocamento do significado de “radical”. Até ontem, era radical quem queria impor regimes totalitários. Hoje, é radical quem defende que governos não devem decidir quais opiniões são permitidas. A inversão é completa: os censores se apresentam como moderados e os que pedem liberdade de expressão são vistos como ameaças à estabilidade mundial. Se não fosse trágico, seria cômico.

E trágico já foi, aliás. A República de Weimar também achou prudente censurar partidos e suprimir discursos sob o pretexto de proteger a democracia. O resultado? Em vez de fortalecer suas instituições, pavimentou o caminho para um regime totalitário que tomou o poder com respaldo popular e instrumentos de controle já preparados. A história ensina, mas poucos se dispõem a aprender.

O caso de Vance não é sobre ele, nem sobre uma conferência em Munique. É sobre a sobrevivência da liberdade de expressão no Ocidente. O que começa com políticos sendo rotulados de extremistas termina com cidadãos comuns sendo silenciados. O pretexto pode mudar – desinformação, discurso de ódio, segurança nacional –, mas a essência permanece a mesma: o poder político decidindo quem pode falar e quem deve calar.

Aliás, se o problema da Europa fosse apenas lidar com discursos inconvenientes, talvez a solução fosse mais simples. Como ironizou Vance, “se a democracia americana conseguiu sobreviver a dez anos de Greta Thunberg nos dando sermões, vocês certamente conseguirão sobreviver a alguns meses de Elon Musk.” Mas parece que a elite política europeia não confia tanto assim na resiliência de suas instituições – ou, mais provável, tem medo do que aconteceria se deixassem o povo falar livremente.

E o medo deles não é infundado – pelo menos do ponto de vista de quem deseja manter o controle. O cerco à liberdade de expressão já não é uma ameaça distante ou um alerta exagerado; ele está em curso, aqui e agora. Qualquer um que ouse desafiar o establishment corre o risco de ser arrastado para a fogueira da correção política, cancelado, silenciado, processado ou até preso sob pretextos cada vez mais elásticos. O Ocidente está navegando em direção ao iceberg da censura, e o momento de virar o transatlântico é agora. Se não o fizermos, não será apenas um vice-presidente americano sendo demonizado por defender a liberdade de expressão – será qualquer um de nós. Quando até o direito de falar livremente se torna “radical”, não é um sinal de que a democracia está em risco – é a prova de que ela já se perdeu.

Resta saber se teremos coragem de recuperá-la.

 

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Leonardo Correa

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