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PGR omitiu mensagens de Cid que contradizem denúncia; Folha corrobora o que publicamos

A Procuradoria-Geral da República (PGR) usou a delação de Mauro Cid como base para denunciar Jair Bolsonaro (PL) por uma suposta tentativa de golpe. No entanto, ignora trechos dos depoimentos do ex-ajudante de ordens que divergem da narrativa da acusação, segundo apuração da Folha.

A versão do jornal foi dada após este site revelar que haviam mais de 10 trocas de mensagens, onde o ex-assistente presidencial afirma que não haveria golpe ou qualquer ruptura constitucional. E que não existe sequer uma mensagem em que ele instigue, incentive ou assessore alguma autoridade militar ou civil a tomar qualquer atitude antidemocrática.

A apuração mostra que depois que Cid fechou o acordo de delação premiada em setembro de 2023, ele mudou várias vezes suas versões. Em áudios vazados, ele alegou que foi pressionado a relatar fatos que não ocorreram. Já em novembro de 2024, alterou declarações diante da ameaça de perder os benefícios da delação e voltar à prisão.

A denúncia se apoia na existência do suposto plano “Punhal Verde Amarelo”, que incluiria o assassinato de Alexandre de Moraes, Lula e Alckmin. A PGR afirma que Bolsonaro sabia e autorizou o plano, citando mensagens entre Cid e o general Mário Fernandes, suposto autor do documento.

No entanto, a PGR omite que, em depoimento à Polícia Federal, Cid disse não saber se Bolsonaro teve conhecimento do documento. “Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do plano”, declarou em dezembro.

Outro ponto ignorado foi a explicação de Cid sobre o monitoramento de Moraes. A PGR afirma que Bolsonaro ordenou a espionagem, mas não menciona que, segundo Cid, o pedido foi motivado por rumores de que o ministro estaria se encontrando com Hamilton Mourão, e não por um plano de assassinato.

A PGR também usou uma troca de mensagens para alegar que Cid acompanhava em tempo real a suposta operação para eliminar autoridades. No entanto, ele declarou que, no dia citado, estava em uma área sem sinal de celular e não se comunicou com os militares.

Outro trecho omisso diz respeito a uma reunião de militares em Brasília, em 28 de novembro de 2022. A PGR classifica o encontro como parte do plano golpista, mas Cid relatou à PF que foi apenas um “bate-papo de bar” entre militares inconformados com as eleições. “Ninguém chegou com um plano e colocou na mesa dizendo que iríamos prender Lula, matar alguém ou espionar”, disse em 19 de novembro.

Dois dias depois, ao depor novamente diante de Alexandre de Moraes, e sob risco de perder seu acordo de delação, Cid mudou a versão e disse que a reunião tratou de fomentar o caos social para justificar uma ruptura institucional.

Distorções sobre apoio militar

A denúncia contra o general Estevam Theófilo, chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), também se apoia na delação de Cid. Segundo a PGR, mensagens sugerem que Theófilo estaria disposto a mobilizar tropas caso Bolsonaro assinasse um decreto de exceção.

Porém, Cid afirmou posteriormente que não acredita que Theófilo teria passado por cima do comandante do Exército, general Freire Gomes. “Isso não posso confirmar. Pelo que conversei com ele e com o assessor dele, ele não tomaria essa atitude”, declarou.

Versão sobre o 8 de janeiro também foi ignorada

A PGR incluiu mensagens de Cid sugerindo que alguma ação poderia ocorrer após a posse de Lula, mas ignorou quando ele afirmou que Bolsonaro não planejou os atos de 8 de janeiro.

A seletividade da denúncia reforça o uso da delação de Cid como ferramenta política, excluindo declarações que não sustentam a tese de golpe.

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Mariana Albuquerque

Mariana Albuquerque

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