O Supremo Tribunal Federal (STF) se divide em grupos progressistas, conservadores e centristas, dependendo do tema em julgamento. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conduzido pelo pesquisador Shandor Torok, aponta que as decisões dos ministros são influenciadas por suas orientações ideológicas e fatores externos, como a repercussão dos casos e os envolvidos no processo.
Essa dinâmica pode afetar a legitimidade da Corte, mas também permite prever tendências para julgamentos importantes em 2025, como a revisão da Lei da Anistia, a legalidade das emendas parlamentares, o inquérito sobre a suposta tentativa de golpe e as ações relacionadas aos atos de 8 de janeiro.
O estudo utilizou uma metodologia quantitativa inspirada na análise da Suprema Corte dos EUA, adaptada ao contexto brasileiro. Foram examinados cerca de 1.500 julgamentos do STF com divergências entre ministros, permitindo a criação de um modelo para mapear a ideologia dos magistrados conforme o tema analisado, como direito penal, economia, legislação trabalhista e direitos sociais.
A classificação ideológica seguiu um critério específico: decisões favoráveis a trabalhadores, comunidades tradicionais, questões ambientais e garantias individuais foram consideradas progressistas, enquanto julgamentos que beneficiaram o setor empresarial, flexibilizaram regulações ambientais ou endureceram penas foram definidos como conservadores. Votos que não alteravam o resultado ou não se encaixavam nessas categorias foram considerados neutros.
A pesquisa identificou três blocos principais no STF. O grupo conservador inclui Kassio Nunes Marques, André Mendonça, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Dias Toffoli. O bloco centrista conta com Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin. Já a ala progressista é formada por Flávio Dino e Edson Fachin. O pesquisador enfatiza que essas divisões são dinâmicas e podem mudar conforme o contexto político e social, além da pressão da opinião pública.
Na segurança pública, por exemplo, há um padrão de divergência. Fachin, Cármen Lúcia e Dino defendem restrições ao uso da força e ao armamento de agentes de segurança, além de maior fiscalização da polícia. Já ministros como Fux, Toffoli, Gilmar Mendes, Moraes, Mendonça, Zanin e Nunes Marques tendem a apoiar maior autonomia para as forças de segurança e o endurecimento da legislação penal.
Essa divisão ficou evidente no julgamento sobre o porte de armas para guardas municipais. Fachin e Cármen Lúcia foram votos vencidos ao defenderem restrições, enquanto a ala conservadora do STF argumentou que a medida reforçaria a segurança pública.