O peso argentino sofreu forte desvalorização nesta segunda-feira (15), após o governo anunciar a suspensão da maior parte dos controles cambiais, medida que integra o novo acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), prevendo o desembolso de US$ 20 bilhões. A moeda caiu cerca de 9%, sendo cotada a 1.170 por dólar às 10h18 em Buenos Aires, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Em contrapartida, os títulos soberanos da Argentina registraram valorização de até 3,5 centavos por dólar, sendo os segundos com melhor desempenho entre os mercados emergentes, atrás apenas dos papéis equatorianos, impulsionados pela eleição presidencial no fim de semana.
Empresas argentinas listadas nos Estados Unidos também reagiram positivamente. Os recibos da petroleira YPF subiram mais de 11% no pré-mercado, enquanto as ações do Mercado Livre (MELI) operavam com alta de 1,10%.
O ministro da Economia, Luis Caputo, informou na noite de sexta-feira que o país receberá US$ 15 bilhões do total acordado com o FMI ainda neste ano, dos quais US$ 12 bilhões devem entrar já nesta terça-feira. Ele também anunciou que o peso passará a ser negociado dentro de uma faixa entre 1.000 e 1.400 por dólar, encerrando boa parte das restrições cambiais.
A medida foi bem recebida por investidores, que há tempos defendem o fim dos controles para facilitar o acúmulo de reservas em moeda forte, recurso essencial para estabilizar o peso e honrar compromissos externos. No entanto, poucos esperavam que a medida fosse adotada antes das eleições legislativas do segundo semestre.
“O fato de um acordo ter sido alcançado elimina dúvidas para aqueles investidores que não tinham certeza se um novo acordo seria assinado”, disse Carlos Carranza, gestor de dívida de mercados emergentes da Allianz Global Investors, em Londres.
“Os valores e o desembolso inicial são maiores do que o estimado pelo consenso, o que também deve ajudar a impulsionar os ativos argentinos.”
Além do novo regime cambial, o governo do presidente Javier Milei eliminou o chamado “dólar blend”, sistema que permitia a liquidação parcial das exportações fora do mercado oficial. Agora, todas as transações deverão passar pelo câmbio oficial.
Outra mudança é a liberação parcial para envio de dividendos ao exterior, referentes a este ano. Já os lucros acumulados de anos anteriores só poderão ser repatriados gradualmente.
Para Graham Stock, estrategista sênior da RBC Bluebay, a guinada representa um avanço decisivo.
“A transição para um regime cambial mais sustentável, respaldado por forte apoio internacional, é um grande passo à frente para a estrutura de políticas. Já estávamos otimistas em relação ao ajuste de políticas na Argentina, mas os acontecimentos do fim de semana reforçam sua sustentabilidade.”
Os investidores também acompanham a visita do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, a Buenos Aires, onde ele se reunirá com o presidente Milei para discutir a agenda econômica e reforçar os laços bilaterais.