A tensão se instalou em Brasília desde que o Tribunal de Contas da União resolveu abrir uma auditoria para investigar o recuo de R$ 14 bilhões no patrimônio do principal plano da Previ (fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil). Na própria base do governo já há quem defenda a substituição imediata de João Fukunaga, o sindicalista-historiador que foi alçado ao cargo de presidente, mesmo sem experiência na gestão previdenciária.
A pressão pela troca de Fukunaga é parte do jogo político pelo controle do maior fundo de previdência da América Latina, com recursos que superam os R$ 270 bilhões. Mas queixas sobre a gestão do ‘japonês’, como é conhecido, já vinham se avolumando e chegaram a Lula no fim do ano passado, especialmente por causa da proximidade do dirigente com o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz.
Tiago e Fukunaga foram vistos juntos em diversas agendas, inclusive internacionais. O presidente da Previ também teria participado de um evento organizado pelo empresário Ricardo Magro, cliente de Tiago e próximos de Eduardo Cunha e Marcelo Sereno, ex-chefe de gabinete de José Dirceu.
Preso em 2016 pela Lava Jato na investigação que apurou desvios de recursos dos fundos Postalis (Correios) e Petros (Petrobras), Magro foi absolvido em 2023. Em dezembro passado, porém, foi alvo de nova operação policial, acusado de sonegação e lavagem de dinheiro em São Paulo.
Ao ser comunicado da aproximação de Fukunaga com Tiago, Lula chamou o dirigente ao Palácio do Planalto e mandou que ele se afastasse do advogado.
Com a auditoria do TCU, a oposição também vai aproveitar para colocar uma lupa na Previ, com pedidos sobre as agendas de Fukunaga, as atas das reuniões do conselho de administração e todos os detalhes de sua gestão. A ideia de uma CPI tende a ser abandonada, pela necessidade de concentrar esforços nas investigações sobre Correios, influência da USAid e no escândalo das marmitas.
O déficit de R$ 14 bilhões no plano 1 da Previ foi ocasionado especialmente pela perda de valor da Vale, impactada pela queda na importação de minério de ferro pela China e também pela interferência política do próprio Palácio do Planalto no processo de sucessão da companhia.