A ordem censória de Alexandre de Moraes, que bloqueou o X no Brasil, afeta cerca de 25 milhões de usuários da plataforma – gente sem qualquer relação com o embate jurídico com Elon Musk, mas que acaba penalizada por uma decisão desproporcional e arbitrária. A Anatel, ainda na sexta-feira, disparou e-mail para todos as operadoras de telefonia e internet do país, muitas delas não têm expediente de fim de semana e ainda não cumpriram a ordem.

No ofício anexado ao e-mail, a agência reguladora faz menção à determinação de Moraes pela “suspensão imediata, completa e integral do funcionamento do X Brasil Internet Ltda em território nacional, até que todas as ordens judiciais proferidas nos presentes autos sejam cumpridas, as multas devidamente pagas e seja indicado, em juízo, a pessoa física ou jurídica representante em território nacional”.

Conversei com vários operadores que me ressaltaram a inviabilidade do cumprimento da ordem em 24 horas, em pleno sábado. Eles também me explicaram tecnicamente como se dá o bloqueio.

A internet funciona com IPs, que são números designados para cada roteador, como um número de telefone que não pode se repetir. O primeiro bloqueio se dá com o envio dessa numeração do site que será bloqueado, no caso o X, para a blackhole do roteador principal da operadora. Isso significa que, sempre que o roteador detectar o IP do X, ela vai descartá-lo.

A segunda maneira, e a mais usada normalmente, é o bloqueio da pesquisa do nome. Conhecemos os Sites pelos nomes deles — exemplo, claudiodantas.com.br — e quem faz a ‘tradução’ do IP para o nome é o famoso servidor DNS (Domain Name System). O bloqueio consiste em descartar no DNS da operadora a pesquisa para o site X.com e, assim, seu computador não saberá o IP do site e não conseguira acessá-lo.

Há ainda o bloqueio por geolocalização. Cada operadora tem seus IPs marcados por cidade/estado/país. Quando se quer fazer um bloqueio de acesso de conteúdo, como não deixar um IP do Brasil acessar a Netlfix do EUA, por exmplo, faz-se o bloqueio com base na localização do IP.

Em relação à VPN (rede privada virtual), trata-se de uma espécie de túnel entre seu equipamento e o servidor. Após a conexão desse túnel, toda solicitação de internet é enviada por aí e o servidor utiliza o IP dele para executar sua solicitação de acesso. Ou seja, sua internet usará o servidor da VPN para sair pela internet, como se o seu computador estivesse literalmente lá e usando o roteador dele.

A maioria das VPNs atuais utilizam um protocolo de segurança chamado IPSEC. Esse protocolo não só codifica suas mensagens como faz isso com endereço de destino que você quer acessar. Ou seja, a única coisa que será visível pela internet é que você está se comunicando com o servidor, mas não é possível saber o destino pesquisado e nem o que está trafegando na sua rede.

Uma pessoa utilizando VPN para acessar o X.com só terá seu pacote de rede direcionado ao site depois de sair pelo servidor da VPN, já utilizando um novo IP que não é do Brasil e tão pouco será barrado nos sistemas de bloqueio, pois o destino é o servidor da VPN e não o X.com.
Isso torna praticamente impossível tentar “descobrir” que alguém está utilizando VPN para acessar um site específico. Só é possível com a cooperação dos servidores da VPN e do site acessado.

Se fosse o caso, o X.com poderia informar o IP que a conta logou e depois ir no servidor de VPN que tem esse IP e pedir os LOGs de uso, para verificar se realmente ocorreu essa conexão. Mesmo assim, é uma situação rara pois a maioria dos servidores de VPN possuem cláusulas de privacidade e os menores nem possuem LOG de conexão. Dessa maneira, apenas sendo possível saber se você acessou uma VPN, mas não para que você a utilizou.

Então, não há como Moraes identificar quem acessa o X com VPN? Bom, se você postar no X, ele saberá que você tem acesso e, se você é um usuário real e está no Brasil, a conclusão é óbvia, assim como a multa de 50 mangos.