Por Luís Humberto Carrijo
A Receita Federal do Brasil, sob o comando do secretário Robinson Barreirinhas, enfrentou recentemente duas crises de comunicação que expuseram fragilidades significativas na estratégia de divulgação de informações do órgão. As polêmicas envolvendo a chamada “taxa das blusinhas” e as novas regras de fiscalização do Pix revelaram uma preocupante inabilidade em transmitir mensagens claras e precisas à população. No caso da “taxa das blusinhas”, a Receita falhou ao não antecipar e gerenciar adequadamente a reação pública à nova tributação sobre compras internacionais de até US$ 50. A medida, que entrou em vigor em agosto de 2024, gerou uma queda de 40% nas importações nessa faixa de valor no primeiro mês.
O órgão cometeu erros cruciais:
1. Falta de transparência: Não houve uma comunicação proativa explicando os motivos e benefícios da medida.
2. Linguagem técnica: As explicações fornecidas eram frequentemente repletas de jargões, dificultando a compreensão do público geral.
3. Timing inadequado: A divulgação das informações foi reativa, ocorrendo apenas após a polêmica já estar instaurada.
4. Ausência de campanha educativa: Não houve um esforço coordenado para educar os consumidores sobre as mudanças.
A situação se agravou com a polêmica sobre as novas regras de fiscalização do Pix. A instrução normativa que ampliava o monitoramento de transações financeiras gerou uma onda de desinformação e pânico entre os usuários. A Receita Federal demonstrou uma notável inabilidade em lidar com a situação:
1. Comunicação reativa: O órgão demorou a responder às fake news, permitindo que informações falsas se propagassem rapidamente.
2. Mensagens confusas: As explicações fornecidas eram muitas vezes contraditórias ou incompletas, alimentando ainda mais a confusão.
3. Falta de coordenação: Houve uma evidente desconexão entre a Receita Federal, o Ministério da Fazenda e o Banco Central na comunicação sobre o tema.
4. Subestimação do impacto: A Receita não previu adequadamente o potencial de desinformação e pânico que a medida poderia gerar.
Para evitar tais crises, a Receita Federal deveria ter adotado uma estratégia de comunicação mais robusta e proativa:
1. Antecipação: Preparar o terreno com comunicações claras e acessíveis antes da implementação de novas medidas.
2. Transparência total: Fornecer explicações detalhadas e compreensíveis sobre os motivos e impactos das mudanças.
3. Uso de múltiplos canais: Utilizar diversas plataformas de comunicação, incluindo redes sociais, para alcançar diferentes públicos.
4. Coordenação interinstitucional: Alinhar mensagens com outros órgãos governamentais para evitar contradições.
5. Campanhas educativas: Investir em materiais informativos e campanhas de conscientização para educar o público.
6. Monitoramento e resposta rápida: Estabelecer um sistema de monitoramento de mídia e redes sociais para identificar e responder rapidamente a desinformações.
7. Linguagem acessível: Traduzir termos técnicos para uma linguagem que o público geral possa compreender facilmente.
8. Engajamento com influenciadores: Trabalhar com formadores de opinião confiáveis para amplificar mensagens corretas.
A inabilidade da Receita Federal em comunicar efetivamente essas mudanças não apenas prejudicou a implementação das medidas, mas também minou a confiança pública no órgão. O recuo forçado na questão do Pix, com a revogação da norma, é um claro indicativo do fracasso na estratégia de comunicação. Para recuperar a credibilidade e evitar futuras crises, é imperativo que a Receita Federal e o secretário Barreirinhas repensem completamente sua abordagem de comunicação. Só assim poderão garantir que futuras mudanças sejam compreendidas e aceitas pelo público, evitando o caos informacional que prejudica tanto o órgão quanto os cidadãos.
* Luís Humberto Carrijo – jornalista e comunicador, com mestrado na Universidade Autônoma de Barcelona, fundou a agência Rapport Comunica e administra os perfis no YouTube e Instagram @imprensa_sem_disfarce