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Internews: maior intermediária de verbas entre USAID e mídia atua no Brasil

Continua o arranca-rabo no “Deep State” americano desde que Elon Musk e Donald Trump prometeram fechar a USAID (Agência dos EUA pelo Desenvolvimento Internacional), que gasta cerca de US$ 40 bilhões todo ano do dinheiro do pagador de impostos do país.

Ontem (7), dois sindicatos que representam funcionários da USAID conseguiram que um juiz federal, Carl Nichols, emitisse uma ordem impedindo Trump de colocar 2.200 funcionários em licença remunerada. Nichols ordenou que os funcionários voltem ao trabalho até o dia 14. A decisão também mantém os emissários da agência alocados em seus postos em outros países.

Enquanto isso, a WikiLeaks, agora de volta aos trabalhos desde que Julian Assange saiu da prisão, chamou a atenção para uma das principais receptadoras de verbas da USAID no campo do jornalismo, a Internews Network.

O que é Internews e como ela usa o dinheiro da USAID

A Internews já é uma quase velha conhecida. No relatório sobre o ativismo pró-censura regado a dinheiro do governo americano que Phoebe Smith, Alex Gutentag, eu e David Ágape produzimos em outubro passado para a Civilization Works, ONG de Michael Shellenberger, citamos a Internews por ser uma “parceira tecnológica sênior” do Consórcio para Eleições e Fortalecimento do Processo Político (CEPPS), financiado pela USAID.

Além disso, um documento fundador da caça às bruxas do “combate à desinformação” produzido pela própria USAID, o manual Disinformation Primer, agradece a dois oficiais da Internews pela ajuda em sua redação e cita extensamente o trabalho da organização.

O portal de transparência mantido pelo governo dos EUA (USAspending.gov) revela que, desde 2008, o governo concedeu à Internews 475,7 milhões de dólares. Desse montante, 87,8% (US$ 417,68 milhões) vieram da USAID.

A Internews “trabalhou com” 4.291 veículos de comunicação, produzindo em um ano 4.799 horas de televisão e rádio que atingiram 396 milhões de ouvintes e 382 milhões de telespectadores. A ONG também “treinou” mais de 9.000 jornalistas até 2023, apurou a WikiLeaks. A operação utilizou escritórios em mais de 30 países.

O quase meio bilhão de verbas do governo americano passaram por uma sede física da ONG em Arcata, Califórnia, que parece estar abandonada.

A presidente da Internews, Jeanne Bourgault, é uma figura de muitas conexões desde os anos 1990, quando ela trabalhou para a Embaixada dos EUA em Moscou. No Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro de 2024, ela propôs o uso de “listas de exclusão e listas de inclusão” para anunciantes usarem no combate à “desinformação”. Ou seja, ela defendeu a mesma tática usada para censurar conservadores empregada pelo grupo Sleeping Giants Brasil.

A tática de usar cartéis que agrupam agências publicitárias para a censura ideologicamente enviesada foi usada contra Elon Musk. A Aliança Global pela Mídia Responsável (GARM), grupo de publicitários que organizava boicotes, simplesmente fechou as portas no ano passado depois que Musk entrou com um processo contra eles por tentarem boicotar sua rede social X. A GARM foi criada em 2019 pela Federação Mundial de Anunciantes e contava com membros como Nike, McDonald’s e o gigante conglomerado Procter & Gamble.

Há fortes indícios de que a maior parte do dinheiro usado pela Internews vem de um governo. Como uma organização assim pode ser chamada de “não governamental”? Várias ONGs por aí estão mais para OGs disfarçadas, longe do controle dos eleitores que engordam seus orçamentos contra a sua vontade pela via dos impostos.

O fundador e presidente emérito da Internews é David M. Hoffman, hoje com 80 anos. Há 20 anos, quando ainda administrava a “ONG”, a Johns Hopkins Magazine publicou uma reportagem especial sobre o ativista. “Jogador de lacrosse, rebelde contra o serviço militar, agitador ‘protomarxista’, recluso hipster e organizador trabalhista”, resumiu a publicação sobre quem é Hoffman. Na época, organização e fundador estavam envolvidos em financiar uma rádio no ambiente de mídia do Quirguistão, que passava por uma crise política com mudança de regime.

“Nos anos 1990, a Internews começou a atrair dinheiro de verdade”, contou a revista. “George Soros e seu instituto Open Society se tornaram apoiadores, como se tornaram, por fim, a Fundação Knight, a Fundação MacArthur e dezenas de outras. A USAID deu uma verba grande para estabelecer um canal independente de televisão na Rússia”. Outra entidade do governo americano, o Fundo Nacional pela Democracia (NED), também deu dinheiro para a entidade, que estabeleceu na época um centro de mídia, uma agência de notícias, rádio e jornal na Ucrânia.

Evelyn Messinger, uma produtora de vídeo que ajudou a assegurar as verbas do NED para a organização atuar na Europa Oriental, depois brigou com Hoffman. “A primeira fase da Internews foi muito divertida”, disse ela à revista. “Mas depois a organização começou a se estruturar em torno de ganhar dinheiro do governo. David adorava, tenho certeza de que ainda adora. Agora havia uma interseção entre o interesse político dos EUA e o trabalho que estávamos fazendo”.

Como a Internews atua no Brasil

Segundo os relatórios financeiros da Internews, a ONG Open Knowledge Brasil [OKBR] recebeu uma verba em 2021 para “treinamento de jornalismo de dados para 323 jornalistas”, com foco em “investigar o desmatamento”. Em 2022, a Internews financiou ao menos um jornalista brasileiro para que fosse à cúpula do clima (COP28).

O dinheiro, contudo, não fica só no ambientalismo. O último relatório de atividades publicado no site da OKBR é de 2023. A ONG se orgulha de ter tido uma iniciativa sua “que ajuda a combater a desinformação” citada pela “Cúpula do Prêmio Nobel”.

O principal projeto financiado pela Internews por aqui se chama Rooted in Trust (RiT, algo como “Enraizado na Confiança”). Ele teria sido criado para “enfrentar a escala sem precedentes e a velocidade de disseminação de rumores e desinformação sobre a COVID-19, as vacinas e problemas de saúde em 15 países”, incluindo o Brasil.

A página do RiT diz ter coletado e analisado “40 mil rumores de redes sociais e atividades de engajamento comunitário” a partir de 2020. As atividades do projeto teriam alcançado 81 milhões de pessoas em 60 línguas. A verba pagou por mais de 500 reportagens e campanhas “teatrais e de influenciadores”.

Um relatório de atividades do projeto publicado em português no site da Internews, em 2022, afirmou que a “comunicação tradicional” no Brasil tem “concentração” na mão de “empresários, políticos de carreira, atores religiosos protestantes (pentecostais e neopentecostais) e do agronegócio” e alegou que isso é prejudicial porque pode “impactar a opinião pública ao retratar cenários tendenciosos e de interesses particulares sem a devida identificação”.

O relatório elogia veículos de esquerda como Agência Pública, Mídia Ninja, Intercept Brasil, Alma Preta e Azmina, aos quais os autores chamam de “iniciativas de jornalismo independente”.

O viés político do trabalho fica claro com este trecho: “Em seus quatro anos de mandato, o presidente Bolsonaro esteve no centro de discussões sobre desinformação”. Mais uma vez, o modo como o dinheiro de braços do governo americano como a USAID, o NED e a Embaixada é aplicado no Brasil teve um lado político muito claro nos últimos anos. Foi aplicado no projeto de estimação do progressismo desde 2016: a censura à suposta “desinformação”.

As duas entidades brasileiras que receberam dinheiro da Internews para fazer esse relatório foram o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé).

O IEB diz em sua página que trabalha com 200 organizações da sociedade civil brasileira, especialmente em atividades ambientalistas na Amazônia e no Cerrado. Ele lista como apoiadores o BNDES, a Fundação Banco do Brasil, o Fundo Socioambiental da Caixa, a JBS (dos irmãos Wesley e Joesley Batista, envolvidos nos escândalos de corrupção da Lava Jato de forma confessada), o Fundo Amazônia e o Fundo pela Amazônia (são muitos fundos!), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência da ONU para Refugiados, o Banco Mundial, o Ministério do Meio Ambiente (de Marina Silva), o Iphan e a própria USAID, entre outros.

O Iepé também não parece flor que se cheire, do ponto de vista de quem não é progressista ou de esquerda. A ex-deputada indígena Sílvia Waiãpi (PL-AP), cassada pelo TRE de seu estado em junho de 2024, denunciou o instituto no Congresso em agosto de 2023.

“O Iepé recebe dinheiro das embaixadas da França e Noruega, da Comissão Europeia, da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Fundação Ford, da Nature Conservancy, da Rainforest Foundation, da Fundação Gordon & Betty Moore, do Internews, Fundo Lira, do GLA (Green Livelihood Alliance), Talmapais Trust e outras organizações estrangeiras. A mesma ONG que impede os waiãpi de terem energia elétrica em sua comunidade”, disse a deputada.

Ela apresentou como indício o depoimento em vídeo de outra índia waiãpi dizendo que o instituto “não quer energia elétrica nem Internet” na comunidade indígena. Para a deputada, o Iepé atravanca o desenvolvimento socioeconômico de sua etnia em nome de uma suposta “preservação cultural”.

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Eli Vieira

Eli Vieira

Respostas de 5

  1. Natural tanta perseguição contra a única deputada indígena brasileira com pensamento crítico e que notoriamente discursa sobre soberania e liberdade. Mas ela não é ex-deputada, ela continua na função e tem muito o que falar sobre as ações do IEPE no Brasil e suas atividades mascaradas de “proteção indígena”.

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