O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que a inflação acumulada em 12 meses deve ultrapassar o teto da meta de 4,5% em junho, conforme indicado pelo Banco Central na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Com isso, a autoridade monetária será obrigada a justificar formalmente ao Conselho Monetário Nacional (CMN) a falha no controle dos preços.
Haddad reconheceu que os juros altos – mantidos em 13,25% – ainda não surtiram efeito completo na economia, o que deve ocorrer apenas no segundo semestre. No entanto, ele minimizou o impacto da inflação descontrolada e evitou responsabilizar o governo pela deterioração dos indicadores.
“Tem que ser muito calibrado para que o remédio não seja nem aquém, nem além da necessidade de garantir aquela [meta de] inflação, até porque, se for além, você vai ter problemas fiscais pelo lado da receita, pelo lado da atividade econômica, pelo investimento”, disse o ministro em entrevista à GloboNews.
Apesar da inflação persistente e da falta de sinais concretos de melhora, Haddad tentou demonstrar otimismo, dizendo que podem surgir “surpresas positivas” se a política econômica for bem conduzida. Ele também garantiu que o governo não interferirá na gestão do Banco Central, agora sob o comando de Gabriel Galípolo, embora tenha dado declarações recentes sugerindo o contrário.
“O choque de juros foi muito forte, então a resposta virá mais rapidamente, e penso que poderemos ter uma acomodação mais rápida dos preços”, afirmou, sem apresentar medidas concretas para conter a inflação.
Desde dezembro, o Banco Central vem elevando a taxa de juros em dois pontos percentuais, atingindo 13,25% ao ano, com expectativa de um novo aumento em março. Ainda assim, a inflação segue acima do esperado e pode continuar pressionando a economia nos próximos meses.
Haddad também defendeu uma revisão periódica das despesas do governo e dos gastos tributários, mas reconheceu que colocar as contas públicas em ordem é um desafio exaustivo. Ele afirmou que espera resolver a maior parte das questões legislativas de interesse da Fazenda ainda em 2025, um prazo que demonstra o ritmo lento das mudanças na política econômica.
O ministro também voltou a comentar sua polêmica declaração sobre o dólar, quando afirmou em janeiro que um câmbio acima de R$ 5,70 estava “caro”. Agora, ele reconhece que errou ao fazer esse tipo de comentário.
“Foi no calor do debate”, justificou, referindo-se à entrevista concedida à CNN Brasil. Na ocasião, ele declarou que “não compraria dólar acima de R$ 5,70 porque é caro para as condições de fundamento da economia brasileira”.
A afirmação, que causou ruídos no mercado financeiro, foi mais um exemplo da falta de estratégia do governo na comunicação econômica. Haddad insistiu que o câmbio flutuante deve acomodar choques externos e que seu papel é garantir o equilíbrio macroeconômico, mas o episódio reforçou a percepção de desorganização na condução da política econômica.
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