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Extrema Direita(?): A questão Migratória e o Rótulo que Censura o Debate

A matéria publicada na Folha de S. Paulo sobre a votação no Parlamento alemão é um exemplo do cacoete — para ser educado — que a imprensa tem ao usar a expressão “extrema direita” de forma indiscriminada. Segundo a reportagem, uma moção que pede o fechamento das fronteiras foi aprovada com votos da oposição, incluindo o partido AfD. O tom alarmista da manchete sugere que o simples ato de defender restrições à imigração descontrolada representa um movimento extremista. Mas será mesmo?

A imigração descontrolada tem se mostrado um problema global. O Ocidente parece ter adotado a ideia de que deve aceitar irrestritamente qualquer peculiaridade de qualquer grupo, sem exigir contrapartidas mínimas de integração. Historicamente, imigrantes se adaptavam aos valores e às normas das sociedades que os recebiam. Hoje, parece que o jogo se inverteu: as sociedades anfitriãs devem se moldar às exigências dos recém-chegados. Essa inversão cultural tem gerado tensões, reforçando as previsões de Samuel Huntington em “The Clash of Civilizations?”, publicado em 1993 na revista Foreign Affairs.

Huntington argumenta que, após o fim da Guerra Fria, o mundo deixou de ser definido por conflitos ideológicos e passou a ser marcado por choques entre civilizações. Segundo ele, as grandes divisões globais não seriam mais baseadas em ideologias políticas ou diferenças econômicas, mas sim em identidades culturais e religiosas profundas. O Ocidente, ao tentar impor seus valores ao restante do mundo sem levar em conta diferenças históricas e culturais, acabaria fomentando o próprio conflito que desejava evitar​.

Esse argumento se aplica diretamente à questão da imigração. No passado, a integração dos imigrantes às sociedades ocidentais ocorria justamente porque havia uma expectativa de adaptação aos valores, normas sociais e costumes do país anfitrião. O imigrante buscava se tornar parte daquela civilização, absorvendo suas regras de convivência. Hoje, essa dinâmica foi subvertida por um multiculturalismo radical que prega a aceitação irrestrita da cultura do imigrante sem qualquer exigência de integração. O resultado? Um Ocidente fragmentado internamente, com bolsões culturais que não compartilham os mesmos valores da sociedade maior e, pior, com políticas públicas que legitimam essa separação.

Tal fragmentação gera um efeito colateral grave: a criação de guetos culturais onde discursos hostis ao próprio país anfitrião podem florescer sem oposição. Nesses enclaves, há pouco ou nenhum contato real com os valores do país que acolheu esses imigrantes. O mais irônico é que isso permite a disseminação do tão falado “discurso de ódio”, mas em um ambiente fechado, longe do escrutínio da sociedade maior. Essas manifestações dificilmente ocorrem de forma aberta, porque entrariam em choque direto com os valores ocidentais de liberdade, democracia e respeito aos direitos individuais.

Esse fenômeno cria uma espécie de “panela de pressão” cultural. Sem o confronto direto no mercado livre de ideias, essas narrativas se reforçam internamente, sem contestação, tornando-se cada vez mais radicais. Na prática, esse processo se assemelha à censura: quando uma ideia não pode ser exposta ao debate público, ela se cristaliza sem oposição e sem evolução. O problema não é apenas a hostilidade latente que esses enclaves podem abrigar, mas o fato de que, ao serem isolados do debate público, essas ideias não podem ser rebatidas, refutadas ou mesmo atenuadas pelo convívio com os valores do país anfitrião.

A ironia maior é que qualquer tentativa de discutir racionalmente os riscos desse modelo multicultural é imediatamente desqualificada com um rótulo genérico e impreciso: “extrema direita”. Ou seja, o próprio mecanismo de censura que impede a exposição dessas ideias dentro dos guetos culturais é replicado no debate público, onde qualquer voz dissonante é silenciada antes mesmo de ser ouvida.

Mais do que ignorar o problema, a intelectualidade dos meios de comunicação tradicionais coloca uma cortina de fumaça sobre a reflexão necessária. Em vez de discutir as consequências sociais, culturais e políticas desse modelo falido de integração, a mídia transfere o foco para um rótulo manipulador, desviando a atenção do debate real. Essa tática não apenas inviabiliza qualquer análise honesta da questão migratória, mas também restringe o próprio campo das ideias, reduzindo um problema complexo a uma dicotomia moral artificial entre “progressistas iluminados” e “reacionários perigosos”, acirrando o conflito.

Se a política fosse uma questão de polos opostos, a extrema esquerda seria o comunismo totalitário, e seu oposto lógico seria o anarquismo puro, isto é, a negação completa do Estado e da hierarquia institucional. Convém esclarecer, no entanto, que, ao contrário do anarquismo absoluto, o anarco-capitalismo não rejeita a ordem, mas a imposição estatal, defendendo em seu lugar a ordem espontânea de Hayek e a regulação dos conflitos por meio de contratos e interações voluntárias. Dessa forma, a ideia de que nazismo e fascismo pertencem à direita política se revela insustentável, já que ambos são essencialmente coletivistas e estatistas.

Como bem apontou Hayek em “O Caminho da Servidão”, o nazismo e o fascismo são regimes estatistas e coletivistas, que intervêm agressivamente na economia e suprimem liberdades individuais — características muito mais próximas ao socialismo do que a qualquer vertente do liberalismo ou do conservadorismo. Classificá-los como “extrema direita” é um erro histórico e conceitual que só serve para alimentar narrativas políticas enviesadas.

Esse tipo de distorção não se limita à história, mas se estende ao debate contemporâneo. O rótulo de “extrema direita” não é apenas uma imprecisão conceitual, mas uma ferramenta de censura intelectual que desvia o foco das questões reais. Em vez de permitir um debate legítimo sobre problemas estruturais, como a imigração descontrolada e a corrosão dos valores ocidentais, ele é usado para silenciar qualquer questionamento. Esse esvaziamento do debate é um sintoma de um fenômeno mais amplo: a decadência interna das grandes civilizações.

Niall Ferguson observa que o declínio das civilizações não ocorre primariamente por forças externas, mas por processos internos de autossabotagem. Em “Civilização: Ocidente x Oriente”, ele demonstra como o Ocidente prosperou devido a instituições sólidas e valores que incentivavam a inovação e a liberdade. No entanto, quando esses mesmos valores são abandonados ou relativizados, a própria estrutura que sustentou esse sucesso começa a ruir, abrindo caminho para seu colapso.

A mídia tradicional, ao invés de fomentar um debate honesto sobre os desafios que o Ocidente enfrenta, impõe rótulos para desviar a atenção e sufocar qualquer reflexão crítica. Esse desvio deliberado não apenas impede soluções reais, mas acelera o processo de decadência ao minar os próprios fundamentos que fizeram o Ocidente triunfar. A preocupação com a imigração descontrolada não tem relação com “ódio ao estrangeiro”, mas com a necessidade de preservar a ordem social, cultural e econômica do país anfitrião. Nenhuma sociedade pode prosperar se abrir mão de seus próprios valores e instituições em nome de uma aceitação irrestrita e sem critérios.

Se há algo verdadeiramente extremista nesse cenário, é a relutância em discutir esses problemas de forma racional e objetiva. O rótulo de “extrema direita” virou um instrumento de desqualificação, e não uma categoria analítica séria. Enquanto isso, o Ocidente segue desmantelando suas próprias bases, caminhando cada vez mais rápido para o desfecho previsto por Huntington.

Leonardo Corrêa

 

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Leonardo Correa

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