Erika Hilton destinou cerca de R$ 1,5 milhão em emendas parlamentares para a Abong (Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns) a fim de, entre outras coisas, financiar ações de “advocacy e colaboração com a Frente Parlamentar Mista LGBT+”, que tem a própria deputada federal como criadora e presidente. Protocolada em junho e lançada oficialmente em setembro, a frente ainda não se reuniu, mas o dinheiro já começou a ser repassado por meio de convênio com a Secretaria Nacional dos Direitos LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
Obtido pela reportagem, o plano de trabalho da Abong com recursos de Hilton foi dividido em três partes: R$ 638,6 mil para ações de “empoderamento e capacitação da comunidade LGBTQIA+”, R$ 522,1 mil para “fortalecimento das paradas LGBTQIA+” e R$ 319,2 mil para “advocacy e colaboração com a Frente Parlamentar LGBT+”. O primeiro desembolso, no valor geral de R$ 493,3 mil, ocorreu em janeiro; os próximos estão previstos para abril e agosto de 2025, no mesmo valor. Ao todo, serão pagos R$ 1,48 mil.
Na descrição dos serviços, constam gastos com a contratação de secretária parlamentar (executiva), assistente de comunicação, assessoria jurídica, designer, tutores, assistentes de formação para territórios, técnicos de formação, além de hospedagens, passagens, alimentação, ‘kits parada’, produção de conteúdo dos cursos, impressão de livros didáticos, elaboração de vídeos educativos e consultorias.
Na justificativa, alega-se que parceria com a Abong é para “promover a cidadania e defender os direitos LGBTQIA+ em todo o Brasil por meio de formação política, fortalecimento organizacional, advocacy, comunicação inclusiva e pesquisa, visando promover mudanças legislativas e políticas favoráveis aos direitos LGBTQIA+“.
Ninguém discorda da necessidade de se proteger minorias, naturalmente, mas essas minorias não podem ser usadas como militância política e essa militância política tampouco pode ser remunerada com recursos de emendas parlamentares, uma vez que os partidos políticos já dispõem de bilhões para a formação de quadros, através de suas fundações.
Também não é possível que Erika Hilton seja diretamente ou indiretamente beneficiada pela emenda que ela mesma indicou à Abong, numa triangulação, no mínimo, imoral. A deputada já dispõe de mais de R$ 125 mil por mês para contratar assessores. Seria como se Pedro Lupion resolvesse destinar emendas para uma ONG assessorá-lo no comando da Frente Parlamentar da Agropecuária. Não dá.
A Abong, organização tradicional do setor, é aliada de primeira hora de Hilton, tendo lançado um manifesto a favor da campanha da deputada pelo fim da escala 6×1. Tanto a deputada como a ONG também cerraram fileiras com Anielle Franco para derrubar Silvio Almeida, quando o ainda ministro dos Direitos Humanos foi acusado por Anielle de importunação sexual.
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