Em 19 de setembro de 2014, um homem conseguiu saltar a grade, correr pelo jardim até a Casa Branca e abrir a porta da residência. Ele portava uma faca e só foi dominado no interior da sede do governo americano. Depois, descobriu-se que levava em seu veículo, parado nos arredores, 800 cartuchos de munição, dois machados e um facão. O homem era Omar González, um veterano da guerra do Iraque que, segundo testemunhou, queria alertar Barack Obama do “colapso” da atmosfera. Em resumo, um sujeito com distúrbio psíquico – provavelmente, decorrente do conflito armado.
Ontem, um homem caminhou até a Praça dos Três Poderes e detonou artefatos explosivos perto da estátua da Justiça; um desses artefatos o matou. Seu nome era Francisco Wanderley Luiz, ex-candidato a vereador de Rio do Sul (SC) pelo PL em 2020 — recebeu 98 votos — e chaveiro de profissão. Seu veículo, recheado de fogos de artifício, explodiu próximo dali, no estacionamento do anexo 4 da Câmara dos Deputados. Nas redes sociais, Tiu França divulgava prints que enviava para si próprio. “Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de matérias (sic) etc. Início 17:48 horas do dia 13/11/2024… O jogo acaba dia 16/11/2024 Boa sorte”, diz uma das mensagens.
Em outra, ele escreve: “Sugiro a vocês uma data especial para iniciar uma revolução. 15/11/2024. Após este grande acontecimento, vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da república!!! Em espírito estarei na linha de frente com minha espada erguida.” Em resumo, um sujeito com distúrbio psíquico do qual não sabemos ainda a causa. Segundo o deputado Jorge Goetten, que conhecia Tiu França desde jovem, o homem aparentava estar abalado emocionalmente nas últimas vezes em que tiveram contato, provavelmente devido ao fim do casamento.
Atos de violência são sempre lamentáveis e devem ser condenados. Loucos sempre existirão em qualquer sociedade, com ou sem polarização política, aquecimento global ou agenda woke. Na verdade, pessoas com problemas psiquiátricos existem aos montes e algumas são capazes de conviver socialmente e até ascender profissionalmente, inclusive na política, no mundo jurídico, no showbiz, entre influenciadores digitais e coachs.
Depois da invasão à Casa Branca dez anos atrás, Obama mandou reforçar a segurança no local. Ele não usou o caso para perseguir politicamente grupos catastrofistas, que pregam o fim do mundo a cada ano e o caso de González não foi parar na Suprema Corte por ameaça golpista ou coisa que o valha. No julgamento, pediu perdão e foi condenado a 17 meses de prisão, além de três anos em condicional com supervisão psiquiátrica.
Num país sério, o ato insano e fatal de Tiu França, que vestia uma fantasia de Coringa, deveria servir ao reforço da segurança local e não a já cansativa narrativa golpista implementada pelo governo atual com apoio jurídico do Supremo e midiático da Globo e outros blogs. Os invasores do 8 de janeiro, por sua vez, deveriam enfrentar julgamentos justos e receber apoio psicológico, como ocorreu com González nos EUA — lá terrorismo é coisa séria e já deixou milhares de mortos.
Garantir a segurança de instituições da República e de suas autoridades é um dever de quem lidera essas mesmas instituições e um direito de todo cidadão pagador de impostos, inclusive em tempos democráticos e pacíficos. Infelizmente, nossas autoridades ainda se movem pelo proselitismo político, como visto em 1 de fevereiro, quando Lula e Luís Roberto Barroso comandaram a retirada das grades de metal que guardavam as sedes dos Poderes desde a invasão de 2023, acompanhados de Rodrigo Pacheco, Alexandre de Moraes, Janja e Flávio Dino.
A encenação de civilidade, que garantiu algumas manchetes, apenas atesta nossa incorrigível miopia institucional.
Respostas de 3
Ele não tinha problemas mentais, trabalhava igual a todo mundo. Se imolou em público.
Pode ser o nascimento de pelo menos uma possibilidade de termos de 2026, uma terceira via que saia dessa polarização insana.
Nunca se divorcie de um insano que teve 98 votos.