Por Eli Vieira
Um festival de besteiras assola as humanidades. Isso foi mostrado com eloquência pelo físico Alan Sokal, nos anos 1990, quando ele fez um artigo-pegadinha anunciando uma “hermenêutica transformativa da gravidade quântica” (não tente entender — é puro papo furado proposital), o que foi publicado com pompa pela revista acadêmica de humanas Social Text. Um trio que incluiu minha amiga inglesa Helen Pluckrose repetiu a pegadinha em 2018, dessa vez com 20 artigos, incluindo uma reescrita de trechos de Adolf Hitler aceita por um periódico feminista.
Uma acadêmica que fez uma dissertação que parece pegadinha, mas é séria, é membro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). Priscila Pinto Calaf trabalha com redes sociais na Secom e esteve entre os sete assessores que acompanharam a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, nas Olimpíadas de Paris em julho e agosto. Nesta viagem, Priscila ganhou R$ 23.616,32, segundo o Estadão. Desde sua contratação em 2023, ela já esteve em comitivas da presidência que visitaram Pequim, Hiroshima, Luanda, Nova Délhi, Nova York e Dubai.
“Criança que faz criança”: a dissertação de mestrado de Priscila
Em agosto de 2007, Priscila Pinto Calaf obteve título de mestre em antropologia social pela Universidade de Brasília (UnB). O título da dissertação é digno das pegadinhas de Sokal, Pluckrose e colegas: “Criança que faz criança: (des)construindo infância e sexualidade com meninos e meninas de rua”.
Mas é bem sério. Afinal, como explica a autora em seu resumo, ela usou métodos avançados como “reflexões acerca das representações das ciências sociais sobre crianças e adolescentes em situação de rua e das possibilidades de construção de uma antropologia da(s) infância(s)” combinadas a “considerações sobre diversos conceitos e categorias etárias”.
A antropóloga observou 36 indivíduos, entre seis e 20 anos de idade, com quem ela gravou 73 entrevistas — muitos eram meninos de rua. Os entrevistados eram membros de uma comunidade precária acampada em um gramado próximo à rodoviária de Brasília, que fica perto dos ministérios.
A conclusão? Os integrantes da “Galera do Gramado” “põem em cheque as concepções vigentes de criança”. Como um cheque com uma concepção seria um cheque sem fundo, creio que ela quis dizer “põem em xeque”.
Isso não é tudo: “eles, os moleques, constroem-se como livres, autônomos, conhecedores. Sabem de coisas que as outras crianças não sabem, e mais, que mesmo alguns adultos não sabem. Neste contexto está a sexualidade para a Galera: sabem trepar, querem trepar”.
Isso é meio alarmante. Não quero passar a impressão de que a autora endossa que crianças de rua se envolvam em situações sexuais. A palavra “pedofilia” não aparece nem uma única vez na dissertação de mestrado. “Abuso sexual” aparece uma vez, citado como uma das causas mais comuns de gestações precoces, em um parágrafo em que a antropóloga critica “discursos sobre gravidez na adolescência” por adquirirem um “tom alarmista e moralista”.
Priscila parece sugerir que errada é a sociedade com sua “moralidade ascética dos que só podem conceber crianças e adolescentes subsumidos por suas famílias ou, no máximo, acompanhados de perto e controlados por instituições”. Você acha que menor de idade precisa de tutela e não deveria morar na rua? Que ascético!
De forma neutra, a antropóloga descreve a visão dos menores sobre seus atos sexuais. “Mauro, 12 anos, Nino, 13, e Olavo, 19, admitiram pagar boquetes para homens mais velhos em troca de dinheiro ou droga, ou thinner na maioria das vezes”, escreveu. “Apenas Daiane, de 14 anos, declarou ser a prática [do sexo anal] indolor”, observou.
Diz-se que o limite da confidencialidade entre um terapeuta e seu paciente é se o último ameaçar se matar ou assassinar alguém. Neste caso, o terapeuta tem a responsabilidade de romper o sigilo e acionar outrem, para evitar tragédias. Quando um antropólogo observa em campo relatos do que é configurado como abuso sexual por lei, não há responsabilidade de ao menos tentar identificar os adultos que abusam sexualmente de meninos de 12 anos?
Parece justo questionar o que o trabalho produziu de positivo para essas crianças, além de ter uma acadêmica com quem conversar. Priscila se importava em algum grau com as crianças, pois dedica o trabalho acadêmico a um dos meninos, Luis Evangelista de Souza, que foi encontrado morto aos 11 anos na barragem do Lago Paranoá. A causa da morte não é dada, a dissertação fala apenas em “conflito com a polícia”.
Questiono o valor científico da dissertação, que fala frequentemente em “construtos sociais de gênero”. O resumo já afirma que “a disposição ativa perene para o sexo [dos menores estudados] é fator fundamental na construção das identidades masculinas e femininas”. O termo “construção social”, um favorito do papo furado de acadêmicos das humanidades que são às vezes hostis à ciência, é no mínimo ambíguo. A sugestão parece ser que as identidades de menino, homem, menina ou mulher são algo inventado pela cultura nas interações sociais, sem nenhum elemento biológico nessa identidade. Isso é claramente falso, como expliquei no meu capítulo para o livro A Crise da Política Identitária (Topbooks, 2022), organizado pelo antropólogo baiano — e sem papo furado — Antonio Risério.
Antropólogos ainda defendem até o “Fazer Banheirão”
Em 2012, a UFBA aprovou uma dissertação de mestrado em antropologia que consistia em uma “autoetnografia” (ou seja, escrever um diário sobre experiências próprias) de título “Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos sanitários públicos da Estação da Lapa e adjacências”. O autor descreve situações em que se envolveu em buscar sexo casual em um banheiro público, aparentemente sem proteção.
O caso chamou a atenção de um criador de conteúdo em 2016, gerando um debate na imprensa. Em resposta, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFBA emitiu uma nota pública em apoio ao acadêmico e à sua dissertação de mestrado. O trabalho fez “contribuições relevantes à linha de pesquisa gênero e sexualidades”, insistiram os antropólogos.
Imagina-se que assuntos como crianças de rua fazendo sexo com predadores sexuais mais velhos, além de potenciais fontes de epidemias de infecções sexualmente transmissíveis, exigissem o máximo rigor intelectual. Mas é o contrário: quando abordados pelo arsenal de “métodos” sob influência de modas intelectuais deploráveis e acientíficas como pós-modernismo e “teoria crítica”, esses assuntos terminam tratados com irresponsabilidade camuflada sob um jargão pseudotécnico. E tudo pago com impostos, dinheiro tomado à força (por definição) da população economicamente produtiva.
A situação não é sustentável, e pode estar cozinhando uma retaliação da população, como já está acontecendo no governo de Ron DeSantis, na Flórida, que já começou a cortar da grade obrigatória disciplinas de utilidade duvidosa nas universidades públicas.
(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Respostas de 4
Olá Eli, boa noite.
Situações dessa natureza já foram colocadas em reflexão através de reportagens publicadas na Gazeta do Povo e na revista Oeste. Entretanto, há décadas que pesquisas acadêmicas na área de humanas são financiadas com linhas e objetivos tratando desses temas. Mesmo contrariando alguns resultados obtidos nas ciências exatas, elas servem a um interesse ideológico que visa transcender a universidade e alcançar todas as instituições da sociedade.
O único benefício que uma tese de mestrado como essa traz é para a autora. Ela conseguiu um título de mestre e, com isso, status no seu meio, oportunidades e dinheiro.
Peraí que eu vou ali vomitar e depois eu volto para comentar
ESSA AI VEIO DO INFERNO E ESTA ENTRE DEMONIOS, A VOSSA DESGRACENÇA DA 1ª DAMA ESTA BEM ACESSORADA , FALAM A MESMA LINGUA POIS FAZEM PARTE DO MESMO INFERNO !!