Dias atrás surgiu a notícia de que a Apple está fazendo uma joint venture inédita no Brasil com a Symbiosis, empresa que atua no reflorestamento e recuperação de terras degradadas. A informação foi publicada no Globo, que deu detalhes da parceria: “Nessa primeira fase, o negócio envolve a aquisição de pouco mais de mil hectares, número que deve chegar a 5 mil hectares entre 2025 e 2026 – o equivalente a sete mil campos de futebol.” Ainda segundo o Globo, o investimento sairá de um fundo (Restore Fund), que tem US$ 400 milhões destinados a apoiar iniciativas de reflorestamento. “O Brasil é um dos protagonistas da iniciativa.”
A VP de Meio Ambiente, Relações Governamentais e Iniciativas Sociais da Apple, Lisa Jackson, deu até uma entrevista para o jornal, explicando que “um dos objetivos com a Symbiosis é ter um processo fundamentado para a medição do carbono”. “Não se trata apenas da Apple comprando terras, mas de investirmos em parceiros como a Symbiosis, para que eles possam identificar locais e expandir projetos. Eles já estão planejando ampliação no ano que vem”, afirma.
Lisa comandou a Agência de Proteção Ambiental de Barack Obama. Segundo ela, a iniciativa de compra de terras no Brasil envolve ainda outras gigantes de tecnologia, como Amazon e Microsoft. Investir em data centers que usam fontes limpas faz parte dessa equação. “Procuramos, ao redor do mundo, investimentos em energia limpa e incentivamos nossos fornecedores a buscar energia renovável em suas localidades. O Brasil tem uma matriz relativamente limpa, com grande uso de energia hidrelétrica, o que é uma enorme vantagem. Queremos estar na primeira onda.”
A matéria só não contou que a Symbiosis, a parceira da Apple no Brasil, tem como sócios o ex-banqueiro Bruno Mariani (CEO e fundador) e o bilionário José Roberto Marinho, presidente da Fundação da família e VP do Conselho de Administração do Grupo Globo. Com o aporte, cujo valor não foi revelado, a Apple passou a deter 49% da Symbiosis Florestal, criada abaixo da holding para abrigar o projeto. Além do Restore Fund, também participa do investimento o Carbon Soultions Fund, o Goldman Sachs, a ONG Conservação Internacional e o BTG Pactual Timberland Investment Group (braço de investimentos em ativos florestais).
“A Apple estima que 25% das emissões de efeito estufa de sua cadeia de valor não podem ser reduzidas e precisarão ser neutralizadas com créditos de carbono até 2030”, de acordo com o site Capital Reset. “Pelo contrato, a gigante de tecnologia também ficará com 49% dos créditos de carbono e tem prioridade para comprar os 51% restantes.” A meta é recuperar 50 mil hectares considerados degradados. Inspirada no modelo usado há décadas pela indústria de celulose, a Symbiosis vem usando melhoria genética para encurtar o tempo de crescimento das árvores, a partir da coleta de sementes de espécies nativas da Mata Atlântica, como Jacarandá, Ipê, Jequitibá e até Pau Brasil, entre outras.
A silvicultura de nativas está alinhada ao Plano Nacional de Recuperação de Vegetação Nativa (Planaveg), principal ferramenta do governo para restaurar 12 milhões de hectares até 2030. Dentre os objetivos, está a captura de carbono. Já a aposta no mercado de crédito de carbono, cuja regulação acabou de ser aprovada na Câmara, é uma novidade no plano de negócios da Symbiosis, que vinha focando seu investimento na silvicultura para abastecer o mercado com madeiras nobres, numa alternativa legal à derrubada de florestas para contrabando.
O mercado de carbono no Brasil vive momento delicado, envolvido em fraudes financeiras e grilagem de terras. O governo Lula, em meio a recordes de incêndios florestais, teme não ter nada a apresentar na COP30 este ano e impulsiona projetos de recuperação de áreas degradadas. No início de dezembro, BNDES e Ministério do Meio Ambiente lançaram os primeiros editais para o restauro de 146 mil hectares na Amazônia, com investimento de R$ 100 milhões. A área integra o chamado Arco do Desmatamento.