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Antes de mais nada, quero esclarecer que isso não é uma delação e que não tenho provas contra Bolsonaro

A frase do título poderia ter sido dita por Mauro Cid, caso sua delação não tivesse sido extraída à fórceps, com o coronel preso, bens bloqueados e a família ameaçada. Eu li com cuidado, ao longo do dia, a famosa colaboração premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tão macaqueada pela emissora paraestatal para bancar a narrativa falaciosa de golpe. Está bem claro por que Alexandre de Moraes manteve seus depoimentos em sigilo até hoje e ainda resiste a divulgar os vídeos das audiências. Nada do que Cid falou sustenta a tese consolidada na denúncia da PGR, muito pelo contrário, a derruba.

Leiam:

Mauro Cid: “Bom, então antes de mais nada, eu queria esclarecer que eu pessoalmente não participei de nenhum planejamento, execução ou tomei ciência de pormenores que pudessem estar sendo planejados ou executados. Eu não executei, eu não vi documento, eu não participei de datas ou nada detalhado sobre isso. O que eu sei, o que eu participei e o que eu ouvi, você tinha núcleos militares, como o general Mário, que estavam instigando o presidente a fazer alguma coisa, estavam querendo que ele fizesse alguma coisa, tanto que foi o que está relatado na minha conversa que ele manda para mim, que ele diz que até dia 12 tem que assinar, tem que fazer até dia 31 de dezembro, e eu falo, mas eu acho que não vai acontecer nada de assinatura de decreto. Toda a base do que eu vi e ouvi estava em cima disso aí.”

Ouvi dizer não qualifica Cid para obter um acordo de colaboração, muito menos suas informações podem ser usada para embasar uma denúncia contra quem quer que seja. Se Cid não integrou o suposto núcleo criminoso, se não compactuou, não testemunhou, não executou, ora bolas, não pode entregar ninguém.

Mas seguimos:

“A reunião que teve na parte de baixo do prédio, que estou dizendo que foi uma reunião golpista, ali não houve nenhuma discussão sobre um planejamento de nada de prisão, de morte de ministro. Claro que as pessoas estavam indignadas, claro que estavam todo mundo discutindo o que tinha que fazer, o que não tinha que fazer, o que podia fazer, mas não tinha nada ali de uma ata, não, saímos aqui, então você vai fazer isso, você vai fazer aquilo, não tinha. Tinha três amigos, dez amigos, onze amigos ali, discutindo as coisas que estavam acontecendo, que estavam acontecendo no país. Indignados, um mais revoltado, outro mais… Mas cada um num lugar diferente. A reunião depois na casa do general Braga Netto também, claro, estavam falando que o povo está na rua, o presidente tem que apoiar o povo na rua, e não sei o que, o general Arruda tinha que fazer isso, o general Teófilo tinha que fazer aquilo, o general Braga Netto tinha que fazer, tinha que fazer, mas não houve, até o momento que eu fiquei, porque depois eu saí, eu já falei isso no outro depoimento.”

Então, além de não presenciar qualquer crime ou planejamento de crime, Cid apenas testemunhou pessoas expressando sua indignação, revoltadas com a volta de Lula, assim como deveriam estar os mais de 58 milhões de eleitores de Jair Bolsonaro em 2022.

Vamos em frente:

“Naquele momento ninguém botou um plano de ação, é esse ponto que eu quero deixar claro, ninguém chegou com um plano e botou um plano na mesa e falou assim, não, nós vamos prender o Lula, nós vamos matar, nós vamos espionar, eu não sei, eu não sei se tem mais embriões, mais gente, tanto que eu não estava em nenhum grupo desses, eu não estava nem na lista de cargos que iam a ser feitos depois, eles estavam usando material, meios do exército, para fazer as coisas, então se tinha mais gente incluída, se tinha menos, não sei, eu não sei, eu não participei de nenhum planejamento detalhado de nenhuma ação, meu mundo era o mundo do presidente, eu não estou mentindo, não estou omitindo, a gente ouvia, eu ouvia, o general Braga Netto, não, tem grupos que querem cabeça do ministro, tem grupos que querem isso, a gente ouvia, ele fala, mas, eu nunca, pô general, que grupo tem isso aí, deixa eu participar, não tinha, o meu mundo era o presidente, o meu mundo de ação era o presidente, eu estou falando a verdade aqui, o meu mundo.”

Se o mundo de Cid era o mundo de Bolsonaro e se o militar reitera – e enfatiza – que nunca viu nada, nunca ouviu nada, nunca perguntou de nada, como Paulo Gonet pode acusar o ex-presidente de liderar a “insurreição” que diz ter ocorrido?

O questionamento vale também para as acusações de que o planejamento do assassinato de Alexandre de Moraes teria até financiamento, custaria cerca de 100 mil reais, segundo deduziu a PF e a PGR.

Pois olha que o disse Cid sobre os tais 100 mil reais:

“A mesma coisa do 100 mil, o de Oliveira, sempre foi amigo meu, um cara gaiato, tanto que eu falei 100 mil, a precisa quanto? 100 mil? Aí ele falou que 10 mil tá bom. Depois ele mandou o documento, então assim, eu não consegui o dinheiro, até já falei, até fui tentar, até tentei pelo partido, para ver se tinha conseguido alguma coisa, para apoiar o pessoal que queria vir, mas na minha cabeça era manifestação, se não era, se era para outra coisa, eu não sei, eles não, até conhecendo, eles não iam me falar, compartimentação da informação, eles não iam, se iam fazer essa ação mesmo, toda poderosa, eles não iam me falar, eu sou o cara do lado do presidente, do lado do general Freire Gomes, eu estava lá.”

Querem mais?

“Meu contato era generais, aquilo eram amigos meus, que serviram comigo, mas que não eram todo dia falando, vem cá, tu vem pra Brasília, vem pra cá, a gente se encontra, a gente tira uma foto com o presidente, foi o que eu fiz, eu recebi, eu já falei, eu recebi milhões de demandas, pedidos, choros, lamentações, ideias das mais, mas não tem, se a estrutura do CopEsp participou, se eu não sei, se teve mais gente inclusa, incluída, eu não sei, o que eu sei foi o que eu vi na coisa, o que saiu na imprensa, nos relatórios que foi quebrado o sigilo, eu não participei, eu tenho certeza, os jornais já quebraram um monte de coisa, não tem documento, eu não participei, eu não vi documento, ninguém chegou pra mim e falou, vai, é isso, é aquilo, vamos fazer, ó toma uma, não tem. Então assim…”

Não pára aí. Lembra que Braga Netto está preso por supostamente pedir informações sobre a delação e as investigações? O delegado Fábio Shor o questionou sobre isso:

Delegado: “Alguém pediu informação do senhor sobre o acordo de colaboração que o senhor estava falando, que a gente tinha conhecimento?”

Mauro Cid: “Sobre?”

Delegado: “Sobre o acordo.”

Mauro Cid: “Não, você diz dos… Dos investigados.”

Delegado: “Dos investigados, alguém chegou e falou, Cid, eu quero saber o que a polícia sabe, o que não sabe, o que você falou?”

Mauro Cid: “Não, não, dos investigados direto, não.”

Delegado: “Nada?”

Mauro Cid: “Não, dos investigados eu não, mas todo mundo quer saber, todo mundo quer perguntar, quer saber, quer falar, quer… mas dos investigados diretamente eu não, até porque eu não falei de nenhum militar diretamente, tirando esses aí dá… que vazaram tudo na imprensa, tudo que eu falei vazou na imprensa, não tem nada que eu falei que não vazou na imprensa. Até minha própria família fica preocupada com segurança, você falou isso, você não falou isso, nem lá em casa eu falo, nem lá em casa eu falo, tudo, tudo que eu falei vazou na imprensa, tá lá, o Mauro Cid citou o general, o general Mário na delação, Mauro Cid delatou Filipe Martins, Mauro Cid disse que o presidente falou de minuta de golpe. Toda a delação já está tudo na coisa.”

Abaixo os documentos:

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Claudio Dantas

Claudio Dantas

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