As projeções econômicas do último Relatório do Boletim Focus de 2024, divulgadas nesta última segunda-feira de 2024 pelo Banco Central, acenderam um grande farol de alerta para 2025. Com inflação acima da meta, câmbio pressionado e um cenário fiscal complicado, o Brasil encara um futuro muito desafiador, especialmente porque as medidas que precisam ser tomadas podem ser pouco populares para os eleitores de Lula e seus aliados. Apesar de alguns dados positivos, a sustentabilidade econômica do Brasil está longe de ser garantida.
Então, vamos destrinchar alguns números da nossa economia para entender o que eles significam para o mercado – incluídos aí bancos, investidores e consumidores.
Inflação persistente
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fecha 2024, nas últimas projeções do Boletim Focus, em 4,9% (contra 3,90% do Focus de 05/01/2024), ultrapassando o limite superior de tolerância de 4,5%. Esse número reflete a dificuldade do Banco Central em conter pressões inflacionárias, apesar das sucessivas elevações da taxa Selic ao longo do ano. Com uma projeção de Selic alcançando 14,75% em 2025, os desafios para equilibrar crescimento e inflação permanecem no radar.
“Mas o que causou essa alta da inflação?“, você pode estar se perguntando. A explicação nunca é única, mas um conjunto de diversos fatores.
A desvalorização cambial, com o dólar ultrapassando R$ 6 encareceu produtos importados e insumos, pressionando os preços ao consumidor; sendo que esse impacto ainda nem chegou por completo aos preços dos produtos que compramos diariamente. Além disso, os índices de inflação já vinham elevados e aceleraram ainda mais nas últimas divulgações e nas expectativas do Focus, tornando a tarefa de estabilização da economia ainda mais complexa; e quanto mais tempo passa, mais difícil e dolorosa será a solução.
Outro elemento importante é a desancoragem das expectativas de inflação. As projeções da inflação para 2024 e 2025 aumentaram significativamente, situando-se em torno de 4,9% e 4,6%, respectivamente, bem acima do centro da meta de 3%. Esse movimento reflete a dificuldade em alinhar as expectativas dos participantes do mercado às metas de inflação que o Banco Central precisa perseguir (e que são definidas pelo Conselho Monetário Nacional, presidido atualmente pelo ministro Fernando Haddad).
Paralelamente, o aquecimento da atividade econômica e o dinamismo no mercado de trabalho contribuíram para um hiato do produto maior, amplificando as pressões inflacionárias. No texto da semana passada, deixamos isso bem claro: as escolhas políticas e o caos na economia.
Por fim, a reação negativa do mercado ao pacote fiscal anunciado recentemente elevou o prêmio de risco e intensificou o impacto sobre as expectativas de inflação e a taxa de câmbio, complicando ainda mais o cenário econômico.
Cenário Fiscal
Em resumo, nosso cenário nos leva a virar o ano de 2024 com atenção especial aos 3 itens abaixo:
- Um ponto positivo neste ano de 2024 foi o crescimento do PIB em 3,49%, impulsionado por estímulos à demanda agregada e setores cíclicos. Contudo, sem avanços estruturais como investimentos em produtividade e infraestrutura, é difícil sustentar esse desempenho no longo prazo – especialmente num cenário em que é o crescimento de gastos públicos que podem estar impulsionando o crescimento do PIB. A economia pode até estar crescendo, mas a base de crescimento parece instável, o que exige muita cautela dos formuladores de políticas e também de nós, pessoas comuns participantes do mercado;
- Com o Real sob pressão e o Dólar superando a marca de R$ 6, o cenário cambial reflete incertezas fiscais e econômicas. O déficit na conta corrente está estimado em US$ 51,9 bilhões, enquanto o IDP de US$ 70 bilhões cobre o rombo. Contudo, embora a balança comercial registre um superávit de US$ 74,15 bilhões, a queda nas exportações líquidas preocupa, mostrando a nossa fragilidade externa;
- A dívida pública atingiu 62,8% do PIB em 2024, enquanto o déficit nominal alcançou preocupantes 7,9%. O ajuste fiscal, embora politicamente inconveniente, é imperativo para evitar uma escalada insustentável das contas públicas.
Investimentos em tecnologia, infraestrutura e produtividade são muito importantes para o nosso desenvolvimento como país, mas seus efeitos são percebidos apenas no médio e longo prazo. Será que podemos esperar investimentos de médio e longo prazos, em detrimento de gastos politiqueiros de curto prazo, de políticos que têm o perfil de gastar pensando apenas no curto prazo?
Nosso país enfrenta um dilema crítico entre o controle inflacionário e a retomada do crescimento sustentável. Eu queria que nossos políticos pelo menos se preocupassem mais com o controle da inflação. Já estaria de bom tamanho para não prejudicar especialmente aqueles que têm menos recursos para se proteger da inflação.
O que fazer?
Para finalizar, o que devemos fazer com os nossos investimentos num cenário como este? Neste ambiente de juros elevados e inflação persistente, algumas estratégias podem ajudar investidores a navegar pelos desafios, mas sempre lembrando que é importante seguir uma carteira muito bem diversificada, com classes de ativos diferentes e geografias também diferentes.
Aqui estão algumas ideias para aqueles investidores mais pacientes e que podem esperar para que o cenário melhore, para colocar o lucro no bolso das sementes que foram plantadas no meio da nossa Crise Fiscal do Governo Lula III:
- Títulos públicos prefixados e atrelados à inflação: aproveite as taxas historicamente altas e a possibilidade de realizar lucros no futuro, quando os juros começarem a cair. Você não vai encontrar Tesouro Prefixado 2031 pagando 15% de juros para sempre e nem até o vencimento em 2031. Com uma eventual queda nas taxas de juros após 2026, você poderá ganhar bons lucros, se tiver paciência de esperar e ver o título desvalorizar caso as taxas continuem subindo. O mesmo vale para o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045. Esse é um trade de renda fixa, porque não quero segurar até o vencimento;
- Empresas resilientes: caso queira investir em ações, foque em companhias com fundamentos sólidos e boa distribuição de dividendos (saiba mais no meu livro O Investidor em Ações de Dividendos). Tenha em mente que as ações podem continuar caindo, enquanto o cenário estiver nebuloso. Mas se você tiver paciência para esperar alguns anos, é pouco provável que se arrependa. Resiliência é uma importante chave para o sucesso nos investimentos;
- Oportunidades de compra: mercados pessimistas podem revelar pechinchas, mas essas pechinchas podem continuar sendo pechinchas por mais tempo do que você tem paciência para esperar. Cuidado!
O Brasil caminha sobre uma linha tênue entre ajuste fiscal e crescimento econômico. As decisões tomadas em 2025 definirão não apenas o desempenho econômico do ano, mas o futuro de longo prazo, especialmente porque é um ano de véspera de eleições majoritárias. Como sempre, planejamento e estratégias bem fundamentadas são indispensáveis para investidores enfrentarem esse cenário desafiador.
Se você não tem ideia do que os investimentos acima querem dizer, procure um profissional para ajudar ou estude bem o Manual do Investidor Completo – de minha autoria, com o Professor Orleans Martins.