Por Jerônimo Goergen
O Brasil é um país de potencial incomparável, com recursos naturais abundantes, uma economia diversificada e um povo trabalhador. No entanto, a falta de planejamento estratégico e a má gestão de prioridades transformam nossas riquezas em gargalos que afetam diretamente o custo de vida da população. Essa falta de visão estruturada não se limita a áreas pontuais, como o transporte coletivo citado recentemente pelo jornalista Claudio Dantas (“Pagamos caro e dobrado por um transporte coletivo de Terceiro Mundo”), mas permeia praticamente todos os setores da economia.
Um exemplo claro é o setor de armazenagem. Como presidente da Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (ACEBRA), acompanho de perto os desafios enfrentados pelo agronegócio, um dos maiores pilares da economia nacional. A cada safra recorde, o Brasil esbarra na insuficiência de infraestrutura para estocar grãos, o que gera desperdício, eleva custos e compromete a competitividade do setor.
Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a estimativa mais recente aponta para um déficit de armazenagem de grãos da ordem de 124 milhões de toneladas, o que representa 37% da produção total. Essa falta de infraestrutura resulta em prejuízos anuais ao agronegócio, chegando a R$ 11,5 bilhões de reais no milho e R$ 19 bilhões na soja.
Trata-se de uma defasagem gigantesca, que não se acaba da noite para o dia. O enfrentamento do problema exige organização e planejamento de médio e longo prazos. A começar por uma política pública que aposte na armazenagem como algo estratégico para o Brasil. Neste contexto, é fundamental oferecer linhas de crédito subsidiadas para as empresas cerealistas, nas mesmas condições ofertadas para as cooperativas e seus produtores. Os juros praticados atualmente inviabilizam qualquer estratégia estruturante.
Hoje, pela falta de onde estocar, o produtor e as empresas se vêem obrigadas a exportar os grãos de qualquer maneira, a qualquer tempo, para liberar espaço para as sucessivas safras que vão pedindo passagem. E nem sempre o momento de vender é o melhor. Isso gera prejuízos incalculáveis. Um grão que pegaria um preço bem melhor se vendido daqui a dois, três ou seis meses, acaba sendo comercializado no momento de baixa. Pela completa falta de espaço.
O problema não é apenas técnico, mas estrutural e simbólico. A incapacidade de planejar e investir em soluções efetivas passa a mensagem de que o Brasil vive na improvisação. Essa realidade artificial, sustentada por bolsas assistenciais muitas vezes sem critérios claros, que tem comprometido a mão de obra deixando de gerar empregos e riquezas, mascara o verdadeiro desafio: criar postos de trabalho dignos e fomentar o desenvolvimento sustentável. O que falta ao país não é capacidade produtiva, mas organização e visão estratégica para utilizar essa capacidade a nosso favor.
O transporte caro é um dos reflexos da economia cambaleante e escancara o Brasil que não se planeja. Portanto, a narrativa ufanista do governo federal de que “tudo está bem” destoa da realidade. Um discurso opaco baseado no assistencialismo que custa caro para o País que não tem estrutura para produzir.
A consequência é que o custo de vida para o brasileiro fica cada vez mais alto. Sem infraestrutura adequada, seja no transporte, na armazenagem ou em outros setores essenciais, tudo no Brasil acaba sendo mais caro. Não é apenas a comida na mesa que encarece; é a vida como um todo. E quando o governo federal gasta em campanhas publicitárias para dizer que o custo dos alimentos aumentou, ele não está apenas fugindo da responsabilidade, mas também diminuindo a grandeza de um país que nasceu para dar certo.
Se tivéssemos políticas claras para geração de empregos, incentivo ao empreendedorismo e planejamento para atender às necessidades reais do Brasil, estaríamos crescendo de forma impressionante. Mas o que vemos é uma nação presa a soluções paliativas e imediatistas, que retardam o alcance de seu verdadeiro potencial.
O Brasil não precisa de atalhos ou discursos simplistas. Ele precisa de governantes que entendam que infraestrutura, como a armazenagem no agronegócio ou o transporte coletivo, não é um luxo, mas uma necessidade básica para o desenvolvimento. Com planejamento, critérios justos e uma política focada em resultados, temos tudo para liderar no cenário global.
Chegou a hora de enxergar além da artificialidade e investir no Brasil real, aquele que trabalha, produz e transforma. O país nasceu para dar certo. Só falta querer.
* Jerônimo Goergen – Presidente da Associação Brasileira das Empresas Cerealistas do Brasil (ACEBRA) e ex-deputado federal