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Agronegócio 5.0: Brasil Rumo à Liderança Global ou Travado por Desafios?

Historicamente, o agronegócio brasileiro lidava com dificuldades de financiamento, devido à falta de acesso a alternativas bancárias convencionais, elevadas taxas de juros e limitações para os pequenos agricultores. No entanto, a situação mudou consideravelmente. O crescimento do setor agrícola brasileiro é notável, apresentando um CAGR de 2,60% na última década e atingindo 3,80% nos últimos cinco anos. Caso todas as inovações e investimentos se concretizem como previsto, existem estimativas de que o CAGR poderia atingir 5,0% nos anos vindouros, tornando o Brasil uma das principais potências agrícolas globais. Essa expansão prevista não demanda crescimento da área de plantio, mas sim incremento na produtividade e na lucratividade das terras já cultivadas. A conexão com os mercados financeiros ampliou a disponibilidade de crédito, proporcionando uma gama de alternativas de financiamento para os agricultores.

No Brasil, produtores de pequena e média escala têm mostrado que o acesso ao mercado financeiro pode ser uma transformação. Um caso ilustrativo é a cooperativa de agricultores familiares na região oeste de Santa Catarina, que empregou fundos obtidos no mercado de capitais para investir em agricultura de precisão, gerando um aumento de produtividade de 30% sem a exigência de aumentar a área de plantio. A Agropecuária São José, localizada no Mato Grosso do Sul, é um exemplo de sucesso no uso do CRA. Eles emitiram Certificados de Recebíveis Ambientais (CRAs) para financiar o crescimento das suas operações de soja e milho, obtendo recursos a taxas competitivas no mercado financeiro. Isso possibilitou a atualização de equipamentos, ampliação da capacidade de armazenamento e eficácia na administração da produção, gerando um crescimento de 20% na produtividade anual. A aplicação do Fiagro tem sido bem-sucedida para o Fundo Agroindustrial Verde, que aplica recursos em fazendas e participações em empresas do ramo agroindustrial. A captação de recursos permitiu que o Fiagro financiasse a instalação de sistemas de irrigação inteligentes e a compra de drones para o monitoramento de plantações, favorecendo uma variedade de pequenos e médios agricultores associados, elevando a lucratividade e a sustentabilidade das atividades.

A mudança para a Agricultura 5.0 requer a implementação de tecnologias tais como a agricultura de precisão, que emprega sensores para acompanhar variáveis do solo e clima, possibilitando a aplicação precisa de insumos; drones e satélites para o acompanhamento de colheitas, identificando pragas e doenças antecipadamente; inteligência artificial em sistemas de previsão de colheitas, otimizando o plantio e a colheita; e sistemas de irrigação inteligentes que ajustam a irrigação com base em dados climáticos em tempo real, poupando água e melhorando a eficácia.

A expansão do agronegócio no Brasil não é somente uma questão econômica, mas também uma questão social. Os estados que priorizam o agronegócio têm mostrado índices de crescimento econômico bem superiores à média do país. Aqui estão algumas informações que embasam este impacto: Em 2023, Mato Grosso registrou um aumento de 7,2% no PIB, enquanto Mato Grosso do Sul registrou um crescimento de 5,8%, superando a média nacional de 2,9%. O Índice de Desenvolvimento Humano de Sinop (MT) passou de 0,746 em 2010 para 0,795 em 2020. Em Dourados (MS), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) subiu de 0,749 em 2010 para 0,783 em 2020, evidenciando avanços significativos na qualidade de vida dessas cidades.

Para que esses progressos se realizem, é essencial a formação dos produtores. As parcerias entre o governo, instituições de ensino superior e empresas devem se concentrar em programas educacionais que instruam sobre a utilização de tecnologias emergentes e a compreensão de instrumentos financeiros. A Agricultura 5.0 baseia-se na sustentabilidade. Para além de ações que salvaguardem o solo e a água, existem oportunidades para a preservação de biomas, a recuperação de áreas degradadas e a implementação de sistemas agroflorestais que favorecem tanto a produtividade quanto o ambiente.

Instituições como a Embrapa, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e o grupo ruralista no Congresso Nacional exercem funções vitais. O governo pode impulsionar o setor através de incentivos fiscais para tecnologia, aprimoramentos na infraestrutura rural e seguros agrícolas contra riscos climáticos.

A cooperação entre startups, instituições de ensino superior e grandes corporações por meio da inovação aberta está contribuindo para a criação de soluções inovadoras para os obstáculos do setor agroindustrial. Tais colaborações impulsionam a implementação de tecnologia e práticas sustentáveis. Os desafios envolvem barreiras protecionistas, políticas que dificultam as exportações do Brasil; pauta ESG ideológica, onde os critérios ESG são aplicados de maneira a restringir o acesso ao mercado global; leis e regulamentos ambientais excessivos, que podem ser muito rigorosos; e a variável climática, que demanda adaptação às alterações climáticas.

Para tirar o máximo proveito das oportunidades do agronegócio 5.0 no Brasil, é crucial lidar com os desafios de forma prática e eficaz. Aqui estão estratégias práticas para vencer cada desafio mencionado, ressaltando como as tecnologias e práticas da Agricultura 5.0 podem atender diretamente a essas necessidades: a implementação de tecnologias de precisão pode aprimorar a qualidade e a uniformidade dos produtos agrícolas, aumentando sua competitividade no mercado global. Utilizar informações de sensores para aprimorar o uso de fertilizantes, gerando produtos com menos resíduos químicos, pode ser um argumento convincente em negociações para a diminuição de obstáculos. A aplicação de inteligência artificial para acompanhar e aprimorar práticas sustentáveis, como a administração de resíduos e a diminuição das emissões de gases de efeito estufa, pode demonstrar que o setor agropecuário brasileiro cumpre os critérios ESG. A implementação de sistemas de Inteligência Artificial que antecipam o consumo de recursos, auxiliando na redução do impacto ambiental, demonstra transparência e dedicação à sustentabilidade.

Drones podem ser empregados para monitorar o uso do solo, assegurando que áreas protegidas não sejam usadas de forma imprópria, simplificando a revisão e implementação de leis de forma mais equitativa. Sistemas de irrigação inteligentes ajustam a irrigação com base em informações meteorológicas em tempo real, minimizando o desperdício de água e fortalecendo a resistência das plantações às mudanças climáticas. É possível implementar através de parcerias público-privadas para a educação sobre ESG e revisão de leis, incentivos fiscais e subsídios para a adoção de tecnologias da Agricultura 5.0, além de programas de treinamento que instruam os agricultores a utilizar novas tecnologias.

O Brasil tem a oportunidade de se estabelecer como líder mundial, seguindo ou até mesmo antecipando tendências globais em sustentabilidade e inovação no setor agroindustrial. Países como Estados Unidos, Canadá e Austrália demonstram que o progresso agrícola pode ser conciliado com elevados índices de desenvolvimento humano, como evidenciado nas áreas agrícolas de Iowa (IDH de 0,912), Queensland (IDH de 0,937) e Saskatchewan (IDH de 0,926).

A mudança para a Agricultura 5.0 no Brasil, viabilizada pelo financiamento de longo prazo via mercado de capitais, representa uma oportunidade relevante não só para a agricultura, mas para a economia em geral. A democratização do acesso ao crédito possibilitará que produtores de pequeno e médio porte implementem tecnologias que melhoram a eficácia e a sustentabilidade de suas atividades. Ademais, a expansão do agronegócio no Brasil tem um impacto significativo na economia, afetando áreas como a indústria de máquinas e equipamentos, o setor de insumos, a tecnologia da informação, a logística e a infraestrutura, e a energia.

A integração desses produtores no mercado financeiro é o segredo para o avanço, e isso só se tornará realidade à medida que os obstáculos forem vencidos. O governo não deve encarar o agronegócio e o mercado de capitais como adversários, pois isso seria contra toda a evolução social e econômica que está por vir. É possível focar em setores primários, considerando que nações como Estados Unidos, Canadá e Austrália exibem elevado desenvolvimento humano aliado a uma forte presença agrícola. Se todas as variáveis favoráveis estiverem em sintonia, nos próximos 10 a 20 anos, o Brasil pode se tornar não apenas um destaque na agricultura, mas também um modelo global de crescimento econômico inclusivo e sustentável, impulsionado pela inovação e consciência ecológica.

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Hugo Queiroz

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