Claudio Dantas
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África do Sul prova do próprio veneno: acusou Israel de genocídio, agora enfrenta a mesma acusação

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Donald Trump continuou na quarta-feira, 21 de maio, sua inovação de incluir a imprensa em reuniões com outros chefes de Estado, escancarando os pontos mais sensíveis para avaliação geral, como fez com o presidente ucraniano. Dessa vez, o participante provavelmente incomodado foi o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.

O líder africano foi confrontado com imagens e notícias sobre palavras e atos de ódio em seu país contra fazendeiros de ascendência europeia, geralmente holandesa ou britânica, conhecidos como “africâneres” ou “bôeres”.

“Vamos ocupar as terras”, disse em um vídeo exibido no Salão Oval um líder radical de oposição, Julius Malema. “Precisamos atacar o homem branco. Vão atrás deles. (…) Atirem para matar. Pá pá pá”; “atirem no bôer, atirem no fazendeiro”.

O encontro aconteceu uma semana após o governo Trump conceder asilo político a 60 africâneres, sob a justificativa de que eram vítimas de perseguição por sua raça. Ramaphosa, na semana passada, chamou esses refugiados de “covardes”.

Quando uma jornalista perguntou a Trump “o que será necessário para convencer o senhor de que não há genocídio branco na África do Sul?”, Ramaphosa interveio e disse “eu posso responder a essa”, ao que o grupo de jornalistas e assessores reagiu com riso.

“O presidente Trump vai precisar ouvir vozes da África do Sul, algumas das quais são seus bons amigos. Quando tivermos conversas em torno de uma mesa silenciosa”, disse o sul-africano, transparecendo desconforto com a inovação do americano.

“Se houvesse um genocídio de fazendeiros na África do Sul, esses três cavalheiros não estariam aqui”, continuou Ramaphosa, apontando para integrantes brancos de sua comitiva. “Incluindo meu ministro da Agricultura, ele não estaria aqui. Essa é a resposta à sua pergunta”.

Trump insistiu: “Temos milhares de histórias, documentários, notícias. Temos que responder a isso”, chamando então pelas imagens.

Além do discurso de Malema, foram exibidas no Salão Oval imagens de cruzes que Trump alegou que indicavam covas de fazendeiros brancos. Na verdade, eram parte de um monumento de protesto que representa a matança de fazendeiros brancos na África do Sul.

Trump cometeu mais erros ao exibir outras imagens. A agência Reuters reconheceu imagens suas exibidas pelo presidente americano de pessoas mortas em sacos e corrigiu que a real origem das filmagens é o Congo, não a África do Sul.

Depois dos vídeos, Ramaphosa comentou que “o que você viu, os discursos… não são política de governo. Temos uma democracia pluripartidária na África do Sul que permite que as pessoas se expressem”.

O presidente sul-africano completou que “nossa política de governo é completamente contrária ao que ele estava dizendo, até no parlamento, e eles são um pequeno partido de minoria, que tem permissão de existir de acordo com nossa Constituição”.

O partido de Malema, contudo, não é tão inexpressivo assim. Nas últimas eleições, conquistou 9,5% dos votos, o que é chocante para uma mensagem tão odiosa. O nome do partido é traduzível para “Combatentes da Liberdade Econômica”. É um nome orwelliano para um partido que é de extrema esquerda e comunista.

Enquanto isso, a líder do partido “Alternativa para a Alemanha” (AfD), que obteve 21% dos votos e a imprensa com viés progressista repetidamente chama de “extrema direita”, foi o preferido da população LGBT alemã.

Ramaphosa e o karma

A África do Sul foi o país que acusou Israel de estar cometendo um genocídio em Gaza, na Corte Internacional de Justiça, em dezembro de 2023.

A alegação de que está havendo um genocídio branco no país africano provavelmente é um exagero, embora os casos coletados por Trump de perseguição aos fazendeiros sejam bem conhecidos, com exemplos piores pelo continente, como no Zimbábue.

Assim como provavelmente é um exagero a alegação de que Israel está cometendo genocídio em Gaza, embora certamente o país mereça estar sob a lupa da opinião internacional sempre que morrem civis na região.

O Estado sul-africano, representado por Ramaphosa na Casa Branca, foi lá coletar sua dose de karma. Aqui se faz, aqui se paga. Aqui se acusa, aqui se é acusado.

Que há um tratamento diferenciado dispensado a cidadãos sul-africanos não-negros é evidente pelo tipo de lei aprovada no país.

A Starlink encontra-se sem licença para operar na África do Sul, apesar de o sul-africano Elon Musk ser o diretor executivo da empresa de Internet por satélite. A principal razão para isso é que o país exige que toda empresa de telecomunicação aplique cotas raciais. As “Leis de Base Ampla de Empoderamento Econômico Negro” (conhecidas pela sigla B-BBEE) exigem que 30% desse tipo de empresa sejam de propriedade de “grupos historicamente marginalizados”, especialmente sul-africanos negros.

Isto, na África do Sul ou no Brasil, não é tratamento igual perante a lei.

O racismo cujo nome não querem mencionar

Nos últimos 10 anos, o progressismo identitário tem insistido que o racismo contra brancos é impossível, contrariando a definição de racismo do dicionário e codificada na lei. Para nossa vergonha, o Superior Tribunal de Justiça colocou esse ativismo acima das nossas leis.

Não é preciso negar o problema do racismo contra negros em países que os escravizaram no passado para reconhecer a existência do problema do racismo contra outros grupos de origem europeia, asiática e de outras origens.

As gangues de estupradores de origem paquistanesa no Reino Unido repetidamente usaram o racismo para justificar a escravização sexual de meninas brancas no país.

Estão na África três dos quatro únicos países do mundo que exigem que as pessoas sejam de uma determinada raça para que sejam aceitas como cidadãs: Libéria, Serra Leoa e Uganda. O outro país é Brunei, no Sudeste Asiático.

A Constituição da Libéria, em seu Artigo 27 (b), diz que “só pessoas que são negras ou de ascendência negra qualificar-se-ão por nascimento ou naturalização para serem cidadãs da Libéria”. Esse dispositivo legal está no país, fundado por ex-escravos e negros livres dos Estados Unidos, desde o século XIX. É o texto constitucional mais explicitamente racista do mundo.

Serra Leoa, um dos países mais pobres do mundo, exige que cidadãos tenham “ascendência negra africana”, mas ao menos permite a naturalização de indivíduos de outras linhagens humanas. Já Uganda restringe a cidadania a povos locais, sem explicitar raça.

Você já ouviu algum ativista de questões raciais mencionando ou discutindo esses fatos? Eu também não.

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