Esta é a segunda edição de A Semana na Ciência, meu passeio descontraído pelo que encontrei de mais interessante no mundo da investigação empírica nos últimos dias.
As piadas sobre o Acre estavam certas? Dinossauros podem ter vindo da Amazônia
Desde que Alfred Wegener propôs, em 1912, que o encaixe da forma da costa leste da América do Sul com a forma da costa oeste da África era um indício de que estiveram juntas, no contexto mais amplo da sua teoria da deriva continental; e desde que a paleontologia chegou à conclusão de que os primeiros dinossauros habitavam esse supercontinente do hemisfério sul, chamado Gondwana, as piadinhas sobre haver dinossauros no Acre adquiriram chance de serem pura verdade. Ao menos no passado.
Um novo estudo do University College em Londres, publicado na revista Current Biology, concluiu que a origem mais provável dos dinossauros e seus répteis ancestrais diretos, os arcossauros, é uma região de baixa latitude de Gondwana. O que se mapeia para a região da Amazônia. Dinossauros no Acre! Aproximadamente…
Antes, os paleontólogos usavam os primeiros fósseis de dinossauros, datados em 230 milhões de anos atrás, para propor que a origem era mais para o sul de Gondwana. Dinossauros gaúchos! Aproximadamente…
Agora, usando um complexo modelo de parentesco levando em conta as diferenças de data e localidade dos fósseis, além das características biológicas reveladas por eles, a conclusão é que uma baixa latitude (mais próximo do Equador) é mais provável como origem.
A propósito, o mesmo meteoro que matou os dinossauros (com exceção das aves, que são dinossauros!) criou as condições que levaram à agricultura das formigas cortadeiras. Leia esta reportagem minha a respeito.
A era de Aquário? Não.
Neste mês e no próximo, seis planetas se alinharão no céu. Vênus, Saturno, Netuno, Júpiter, Urano e Marte estão fazendo uma adorável fila indiana no firmamento. O que isso significa para os rumos das nossas vidas, da história e da ordem global? O que isso diz sobre o que esperar para 2025? Absolutamente nada.
E é sua única chance de ver na vida, como a passagem do cometa Halley? Também não. Como diz minha fonte, “os astrônomos dizem que enquanto este evento pode motivar um hype exagerado sobre ‘alinhamento raro’, na verdade é uma ocorrência comum no nosso céu noturno”. Bem, pelo menos é bonito, e os planetas e seus mistérios são mesmo fascinantes. Sabia que já descobriram mais de cinco mil planetas fora do Sistema Solar?
A era de Andrômeda? Sim!
Caso você não saiba, a Via Láctea, nossa galáxia, está em rota de colisão com Andrômeda, a galáxia vizinha, a 2,5 milhões de anos-luz daqui. Como me explicou um amigo astrônomo, isso não tem muitas consequências para a escala muito menor de sistemas solares como o nosso. Exceto, talvez, um céu mais interessante. Mas só acontecerá daqui 4,5 bilhões de anos, quando nosso planeta terá o dobro da idade que tem agora. Estaremos aqui? Seremos bolas de luz que ainda votam com urnas eletrônicas do TSE?
Enfim, a notícia é que a Nasa financiou a melhor foto de Andrômeda já tirada, mostrando que o telescópio Hubble, o boomer em órbita comparado ao novíssimo James Webb, ainda não está pronto para se aposentar.
O astrônomo Benjamin Williams, da Universidade de Washington, é o principal autor do novo estudo que examinou as imagens. Deu trabalho montar o cenário completo da galáxia: mais de mil órbitas do Hubble em torno da Terra, por mais de uma década. O resultado foi um mosaico com 600 campos de visão distintos. A foto completa do mosaico tem no mínimo 2,5 bilhões de pixels.
Com auxílio de software, foram reveladas estrelas com brilho menor que o Sol, que geralmente o Hubble não pega. Agora, são conhecidas 200 milhões de estrelas em Andrômeda,
No céu, Andrômeda é visível a olho nu como um disco de baixo brilho com o tamanho aproximado da Lua. Do nosso ponto de vista, o disco tem um ângulo de inclinação de 77 graus. Abaixo, uma versão de baixa resolução da foto completa de Andrômeda, para dar uma noção.
Fonte. Crédito da imagem: Science: NASA, ESA, Benjamin F. Williams and Zhuo Chen (University of Washington), L. Clifton Johnson (Northwestern). Image Processing: Joseph DePasquale (STScI).
FradeGPT
Esta faria Umberto Eco sorrir: um princípio proposto por um frade inglês que nasceu há 738 anos foi validado pela inteligência artificial. Ou talvez fizesse o escritor italiano mais carrancudo: Eco era um sujeito chato, especialmente com tecnologia.
O frade em questão é Guilherme de Ockham (1285-1347/49), e o princípio é a “navalha de Ockham”. Nas palavras do próprio: pluralitas non est ponenda sine necessitate, ou “a pluralidade não deve ser proposta sem necessidade”. Faz completo sentido, podemos dizer agora em retrospecto, depois do desenvolvimento da probabilidade e da estatística.
Eventos mais simples envolvem menos passos, por isso são mais prováveis. “Janja escorregou numa casca de banana” é mais provável que “Janja escorregou numa casca de banana enquanto digitava mais um insulto contra Elon Musk no X depois de repetir que a taxa da brusinha era para ser só para as empresas e não para o consumidor no WhatsApp do Fernando Haddad”. (Não que tenha acontecido.)
Um estudo mostrou que redes neurais profundas, que são a base da inteligência artificial contemporânea, seguem com naturalidade a navalha de Ockham. Essas redes preferem soluções simples quando há múltiplas opções se encaixam nos dados de treinamento. O estudo é de Oxford e foi publicado na revista Nature Communications.
No livro “O nome da rosa” de Umberto Eco (recomendo ler e depois ver o filme com Sean Connery), o protagonista é um frade investigador chamado Guilherme de Baskerville, uma homenagem ao Guilherme de Ockham e a Sherlock Holmes. O objeto de investigação do clérigo é muito chique: uma obra desaparecida de Aristóteles sobre a poesia — ao contrário de Platão, que queria expulsar os poetas de Atenas, Aristóteles os defendia.
Passagens secretas do castelo desenhadas por Leonardo da Vinci
Por falar em coisas chiques e antigas: o Instituto Politécnico de Milão colaborou com a administração do Castelo Sforza para revelar várias passagens subterrâneas na fortificação. Elas se concentram na “Ghirlanda”, a muralha externa, e algumas coincidem com rotas militares secretas que Leonardo da Vinci desenhou.
Um dos túneis confirmados mostrados pelo mestre polímata era usado por Ludovico, o Mouro, um nobre que governou como Duque de Milão entre 1494 e 1499, para visitar sua falecida esposa Beatrice d’Este, sepultada na Basílica de Santa Maria das Graças. Com o estudo, o túnel deixa de ser especulação e rumor e, parece, passa a ser fato histórico.
O estudo usou varredura por laser para fazer um gêmeo digital do Castelo Sforza, revelando seus segredos antigos. Alguém aponte este laser para o sorriso da Mona Lisa.
Respostas de 2
Eli, meu colega do Departamento de Paleontologia da Universidade Federal do Acre, prof. Dr. Jonas Filho – ex-reitor dessa instituição – resgatou fragmentos da mandíbula de um purussauro, às margens do rio Acre, em Brasiléia, cujo porte seria superior a 10 metros, e que viveu no Acre há mais de 8 milhões de anos. O material foi descoberto pelo menino de 8 anos, Robson Cavalcante e seu pai, José Militão, quando pescavam no rio. O fóssil está disponível para visitação pública e pude vê-lo diversas vezes e contar com explicações de meu amigo, o paleontólogo, Dr. Jonas Filho, quando o visitava para cafezinhos costumeiros no final da tarde e saciar minha curiosidade sobre o réptil pré-histórico. A força de uma mordida do réptil (cuja mandíbula era 1,40) podia chegar a 7 toneladas. “O Purussauro seria capaz de devorar um Tinarossauro Rex se tivessem vivido na mesma época”, que explicou, “na época em que os Purussauros viveram, os dinossauros já estavam extintos” afirmou Jonas Filho para o R7.
Fonte: https://www.ufac.br/ufacmais/pesquisa/paleontologia-da-ufac-resgata-fragmentos-de-purussauro
Fonte: https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fossil-de-reptil-confundido-com-dinossauro-e-encontrado-no-acre-29062022/
Muito legal, Maria! Obrigado por trazer.