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A Ilusão da Abertura Chinesa: Superávits, Controle Estatal e Práticas Comerciais Duvidosas

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A China gosta de se apresentar como um pilar da globalização. Com exportações que atingiram 3,58 trilhões de dólares em 2024 e uma produção que abastece o mundo com tudo, de semicondutores a automóveis, o país projeta a imagem de uma economia integrada e dinâmica. Mas os números contam uma história diferente. Em 2024, o superávit comercial chinês alcançou um recorde histórico de 992,2 bilhões de dólares – quase 1 trilhão –, um salto de 20,7% sobre os 823,2 bilhões de 2023. Esse desequilíbrio gritante, com exportações superando importações em 38%, expõe a verdade: a China não é uma economia aberta. Longe de promover uma disputa justa no comércio global, ela opera um sistema que acumula riqueza interna às custas do mundo, sustentado por práticas empresariais antiéticas, uma competitividade artificial e um controle estatal que cerceia liberdades individuais. Seus superávits mascaram gastos fiscais elevados e um endividamento insustentável, enquanto exemplos como embargos à carne bovina por suposto “COVID” na embalagem, manipulação de estoques de minério e compras obscuras de petróleo revelam um padrão de comportamento que desafia ética, moral e cultura internacionais.

Um Superávit que Sustenta uma Miragem

Os dados são reveladores. Em dezembro de 2024, o superávit mensal da China bateu 104,8 bilhões de dólares, o maior da história, com exportações de 335,6 bilhões contra importações de apenas 230,8 bilhões. O superávit com os Estados Unidos cresceu para 359,9 bilhões em 2024, e com a União Europeia atingiu 235,6 bilhões – aumentos de 20 bilhões e 26,9 bilhões sobre 2023. Dos 181 países analisados pelo FMI em 2023, 150 (83%) registraram déficits com a China. Exportando navios (57,3% de aumento), semicondutores (17,4%) e automóveis (15,5%), mas limitando importações a commodities como soja (-10,9% em valor), a China acumula quase 1 trilhão em superávit, ou 5,6% de seu PIB (18,27 trilhões).

Esse ganho comercial é uma muleta artificial. Ele financia um déficit fiscal de 7,4% do PIB em 2023 e um endividamento que ultrapassa 300% do PIB (55 trilhões de dólares, segundo o IIF). Investimentos como os 890 bilhões de dólares em energia limpa dependem dessa entrada de dólares para estabilizar o yuan e sustentar estatais. Mas o consumo interno, apenas 38% do PIB (contra 68% nos EUA), reflete uma economia fechada que não absorve bens estrangeiros, deixando o superávit como o pilar de uma solidez ilusória.

Barreiras, Práticas Antiéticas e Controle Totalitário

A China fecha seu mercado com barreiras regulatórias e tarifas. Setores como energia, siderurgia e aviação são feudos de estatais como State Grid, China Baowu e COMAC, enquanto no varejo Alibaba e JD.com sufocam a Amazon. O “Great Firewall” bloqueia Google e Facebook, protegendo TikTok e WeChat. Práticas como roubo de propriedade intelectual – vide os casos da Huawei – e subsídios estatais distorcem a concorrência. A ausência de uma rede de seguridade social mantém custos trabalhistas baixos, gerando a “competitividade” artificial que inunda o mundo com eletrodomésticos (14,1% de aumento).

Essas práticas vão além. Em 2020, a China impôs embargos à carne bovina australiana, alegando traços de “COVID” em embalagens – uma justificativa amplamente vista como pretexto político após a Austrália pedir uma investigação sobre a origem do vírus. O embargo, que afetou 35% das exportações australianas de carne para a China (valendo 1,2 bilhão de dólares), foi criticado como uma tática de retaliação comercial, não baseada em evidências científicas sólidas, prejudicando produtores globais em nome de interesses domésticos.

Outro exemplo é a manipulação de preços de commodities como minério de ferro. Em 2015, relatórios sugeriram que a China exagerou estoques de minério em portos, criando uma percepção de superabundância que derrubou os preços globais em até 30%, beneficiando suas importações massivas (70% do minério mundial) enquanto mineradoras como as da Austrália e do Brasil amargaram prejuízos. Essa tática, combinada com a disseminação de rumores sobre “excesso de oferta”, distorce mercados e viola princípios de transparência.

No mercado de grãos e proteínas, a China manipulou preços durante a peste suína africana (2018-2019), estocando carne suína e espalhando informações exageradas sobre escassez, o que manteve preços internos baixos enquanto importava a preços reduzidos, afetando fornecedores globais. Em petróleo, a China comprou cerca de 500 mil barris diários do Irã em 2023, ignorando sanções internacionais, e adquiriu petróleo venezuelano a preços descontados (20-30% abaixo do mercado), sustentando regimes sob pressão e desrespeitando normas éticas globais.

O controle estatal amplifica isso. O “consuma chinês” é imposto por um sistema que cerceia liberdades, monitorando cidadãos via celulares e uma digitalização total gerida pelo Estado e estatais como Tencent e Alibaba. O sistema de crédito social pune quem compra produtos estrangeiros, promovendo marcas locais como ato patriótico, o que sufoca a autonomia e reforça o mercado interno como um domínio exclusivo chinês.

Uma Globalização de Fachada com Data de Validade

A entrada da China na OMC em 2001 prometia integração, mas o que se vê é mercantilismo: exporta aço barato, mas bloqueia aço estrangeiro; vende aviões via COMAC, mas compra Boeing sob condições; exporta TikTok, mas bane Facebook. Os superávits – de 838 bilhões em 2022 para 992,2 bilhões em 2024 – sustentam essa fachada. Entre 2019 e 2022, o superávit com a UE saltou 144% (de 113 bilhões para 276 bilhões), e com os EUA atingiu picos de 400 bilhões. Em 2024, exportações para os EUA subiram 15,6% só em dezembro (48,8 bilhões). Mas essa riqueza mascara uma bomba-relógio: o superávit financia dívidas e gastos que o consumo interno não suporta. A crise imobiliária (Evergrande) e a desaceleração do crescimento (4,5% projetado para 2025) mostram que o modelo exportador está no limite. Sem abrir seu mercado consumidor, a China não terá como manter o crescimento quando as exportações fraquejarem.

O Que Falta para uma Disputa Justa e Sustentável

Para ser uma economia aberta e evitar um colapso, a China precisa abrir setores-chave, reduzir barreiras não tarifárias e permitir importações de bens de consumo e tecnologia. Derrubar o “Great Firewall”, alinhar práticas comerciais aos padrões globais – abandonando manipulação de preços, embargos infundados e compras antiéticas de petróleo – e criar uma rede de seguridade social que eleve o consumo interno são passos essenciais. Flexibilizar o yuan e o nacionalismo econômico ajudariam.

Mas o controle estatal sobre as liberdades, com monitoramento digital e o “consuma chinês”, é um obstáculo. Relaxar esse domínio exigiria ceder poder, algo que o Partido Comunista resiste. Sem isso, a abertura econômica, mesmo necessária, enfrenta uma barreira política e cultural enraizada.

O Preço da Deslealdade e da Insustentabilidade

A estratégia chinesa transformou um país agrário em uma superpotência de 18 trilhões de dólares em quatro décadas. Mas o custo é alto: tensões comerciais, desconfiança global e uma economia insustentável. Os superávits financiam dívidas, mas práticas como embargos por “COVID” na carne, manipulação de minério e exploração de petróleo sancionado, junto ao cerceamento da autonomia, afastam a China de uma disputa justa. Ao negar ao mundo acesso equitativo a seu mercado e postergar reformas, ela perpetua um sistema desleal que pode colapsar se não mudar. Os números e os fatos não mentem: a China não é aberta, e sua “globalização” é uma ilusão com prazo de validade.

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