Na política como no futebol, quem canta vitória antecipadamente acaba quebrando a cara. Davi Alcolumbre, favorito para voltar ao comando do Senado, está vivendo seus dias de final de campeonato depois que sua assessora parlamentar foi citada na Operação Overclean que prendeu Marcos Moura, conhecido como o “rei do lixo”. O empresário está em cana desde a semana passada, acusado de fraudes em contratos públicos de 17 estados. O esquema teria movimentado ao menos R$ 1,5 bilhão em emendas parlamentares.
Nesta semana, o empresário contratou as bancas de José Eduardo Alckmin e Rodrigo Mudrovitch, conhecidos em Brasília pelo amplo acesso a tribunais superiores, enquanto a Polícia Federal trabalha com a oferta de uma delação premiada para que o “rei do lixo” entregue seus parceiros no crime, notadamente políticos.
A relação do empresário com o União Brasil é considerada peça-chave da investigação, uma vez que sua ascensão ocorreu por meio de um megacontrato de limpeza urbana, em 2018, com a prefeitura de Salvador, na época administrada por ACM Neto (União-BA), que aparece em fotos recentes ao lado do empresário durante celebração da vitória de Sandro Mabel em Goiânia.
Irmã de ACM Neto, Renata Magalhães Correia possui até uma aeronave em sociedade com Marcos Moura, que desde junho integra a Executiva Nacional da legenda, mantendo estreito relacionamento também com seu presidente, Antonio de Rueda.
Com exceção de Marcos Moura, os demais ainda não estão sendo investigados, mas a PF prendeu o vereador eleito Francisco Nascimento (União-BA), primo do líder do União na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), que chegou a ser cogitado para suceder Arthur Lira. O primo de Elmar foi eleito na base do prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento, seu irmão.
Segundo a PF, os contatos políticos facilitavam o acesso da quadrilha a contratos públicos em prefeituras administradas por membros do próprio partido, direcionando licitações superfaturadas com empresas integrantes do esquema. Toda a farra era abastecida com recursos de emendas parlamentares direcionadas por senadores e deputados.
É nesse contexto que, segundo a PF, o empresário mantinha contato direto com o gabinete de Alcolumbre. Mensagens indicam que a assessora Ana Paula Magalhães de Albuquerque Lima intermediou um encontro do senador com a secretária de Educação do Amapá, Sandra Casimiro, a pedido de Marcos Moura. Diálogos interceptados revelam que, seis dias antes do encontro, Marcos Moura enviou mensagem para Alex Parente, também preso na operação Overclean, afirmando que “a agenda com a sec. de Educação será quarta 18h”.
Três dias antes, Parente já orientava seu irmão e sócio, Pedro Parente, sobre entregas de projetos para Moura: “Amapá está pronto.”
Os investigadores avaliam que há indícios de que documentos preparatórios para contratos públicos do governo do Amapá foram elaborados pelos empresários investigados, sugerindo fraudes licitatórias. Segundo a PF, “permitir que uma entidade privada prepare documentos-chave de um processo licitatório enseja no direcionamento do contrato, mediante fraude no procedimento de contratação, com posterior desvio de recursos públicos em benefício próprio ou de terceiros”.
Levantamento recente da Gazeta do Povo apontou o senador do Amapá como “um dos reis das emendas parlamentares”, tendo obtido em 2024 mais de R$ 54 milhões.
Há tempos, muitos em Brasília se perguntam de onde vem a força política de Alcolumbre, que presidiu o Senado entre 2019 e 2021, e que está prestes a voltar a comandá-lo a partir de 2025. Talvez a PF, em breve, encontre a resposta.