Após a consolidação dos resultados do segundo turno, os jornais trazem manchetes apontando a vitória de partidos de Centro e de Direita. Eu me pergunto: qual partido de direita? O PL? Ora, senhoras e senhores, o partido de Valdemar Costa Neto poderia ser no máximo enquadrado como uma legenda de centro que se identifica como de direita, um partido trans. O que seu cacique está fazendo é apenas usar o ativo do bolsonarismo, hoje a principal força popular do país, para fortalecer o Centrão!
Como expliquei ontem em artigo, o ‘boy de Mogi’ articulou com Gilberto Kassab e Baleia Rossi/Michel Temer a construção de palanques eleitorais que, no mínimo, usaram lideranças bolsonaristas para manter seu poder; usaram o eleitor de direita para manter seu poder. Onde o bolsonarismo lançou candidatos próprios, esses mesmos partidos atraíram o voto da esquerda para “garantir a democracia, contra a barbárie”. Deveria ser constrangedor, mas nossos políticos têm PhD em cinismo e hipocrisia.
Os números não mentem. Levantamento do Poder360 mostra que o PL é o partido com mais votos recebidos (15,7 milhões), mas quem elegeu mais prefeitos foi o PSD (891) e quem governará as maiores cidades será o MDB (27,9 milhões de cidadãos), que também fez o maior número de vereadores (8.050), garantindo o protagonismo na construção de políticas públicas.
Mas, Dantas, o sistema político sempre foi assim!
Na época de Lula, quando o petista ainda era popular, o Centrão usou o eleitor de esquerda e suas lideranças. Negociou seu apoio e traiu o petista na primeira oportunidade — só a molecada acha que Roberto Jefferson, delator do mensalão, é de direita. Com Lula fraquinho em 2006, esses mesmos partidos e caciques o mantiveram no poder, garantindo sua reeleição e depois a de sua sucessora. Quando o petrolão explodiu e Dilma não conseguiu deter a Lava Jato, largaram a mão do PT, ela caiu e seu guru foi preso.
Da mesma maneira, quando perceberam que Jair Bolsonaro havia conseguido catalisar o sentimento conservador e antipetista da classe média brasileira em 2018, esses mesmos partidos e lideranças não perderam a oportunidade para reassumir o controle político e enterrar a Lava Jato. Só que o cavalo, que parecia selado, era xucro e dificultou as tratativas para domá-lo. Ao longo de 4 anos, assumiram o comando do Congresso, ministérios estratégicos, um controle maior do orçamento e até fizeram indicações para o Supremo.
Depois de tudo, o bolsonarismo ainda empolga muito eleitor conservador e antipetista, que não enxerga outra liderança popular no horizonte, embora sonhe com isso! — vide Pablo Marçal. Mesmo depois de tudo, o bolsonarismo segue vivo e dando frutos país afora, como a semente de um movimento de direita sem partido e cujo comando está severamente avariado. Por isso, esses partidos e líderes do Centrão enxergaram na aliança com o bolsonarismo uma forma de reforçar suas próprias posições de poder.
Essa é a forma que o sistema político, que conduz o Brasil há décadas, encontrou para seguir tutelando o eleitor, que ainda se deixa iludir pela promessa de um futuro que nunca chegará. Está cada vez mais difícil fazê-lo, sim, por isso o esforço descomunal para regular redes, calar jornalistas independentes e prender opositores. O sistema político que tutela o brasileiro há décadas procura desesperadamente uma forma de ‘manter tudo que está aí’, inclusive fabricando lideranças de direita fajutas e outsiders — vide Pablo Marçal.
Aviso que o eleitor só terá chance se sair da ignorância, organizando-se politicamente e agindo estrategicamente, assumindo as rédeas do processo político, usando o Centrão e não o contrário, e construindo novas elites. É preciso serenidade e resiliência, pois a luta pela libertação é longa e dolorosa. A construção de uma sociedade livre e próspera, fundada em virtudes e não em vícios, pode parecer uma utopia, mas parte de uma força civilizatória irrefreável.
Respostas de 2
Excelente análise!!! Como sempre! Parabéns
Tem sentido…