O governo Trump endureceu o discurso contra o crime organizado, mirando cartéis como organizações terroristas. A recente declaração de emergência nacional e a possível aplicação da Lei dos Inimigos Estrangeiros refletem a promessa de endurecer as ações contra narcotraficantes. Trump afirmou que “toda entrada ilegal será imediatamente barrada” e que começará a deportação de “milhões de estrangeiros criminosos”.
O envio de tropas à fronteira com o México é um passo para conter a imigração ilegal e bloquear a expansão dos cartéis. Trump pode pressionar outros países latino-americanos a classificarem organizações criminosas como terroristas, sob risco de sanções econômicas. A medida, anunciada nesta segunda-feira, também permite ações mais severas contra grupos criminosos, incluindo o congelamento de bens e operações fora dos EUA, mesmo que isso viole a soberania de países da América Latina.
O decreto cita explicitamente o Trem de Aragua, originado na Venezuela, e a gangue Las Maras Salvatrucha (MS-13), mas mantém o foco em “Cartéis” de forma ampla. Segundo o texto, “em certas partes do México, funcionam como entidades quase governamentais, controlando quase todos os aspectos da sociedade”. A abordagem reflete o compromisso de Trump em combater o narcotráfico e proteger o território americano.
Trump descreveu os cartéis como uma ameaça ao “Hemisfério Ocidental e à segurança nacional dos EUA”. No decreto, ele estabelece que a presença desses grupos em território americano deve ser eliminada, junto com suas estruturas de comando fora do país, para proteger a população e a soberania dos EUA.
Embora o documento não mencione o uso imediato de forças armadas, ele delega ao novo Secretário de Estado, Marco Rubio, e ao Departamento de Segurança Interna, a tarefa de definir os cartéis que serão rotulados como terroristas e as medidas a serem tomadas. A emergência nacional declarada por Trump amplia o escopo de ações, permitindo confisco de bens e restrições financeiras aos envolvidos.
A proposta difere da abordagem tradicional ao narcotráfico na América Latina, que geralmente ocorre por meio de cooperação entre os países.
No Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) expandem suas operações transnacionais. Relatório da ONU destaca que o PCC movimenta quatro toneladas de cocaína por mês apenas para a Europa, via Porto de Santos (SP). A organização amplia sua influência global por meio de parcerias com cartéis e máfias internacionais.
A corrupção e a violência sistêmica dificultam os esforços de combate ao crime organizado na América Latina. Estratégias como repressão armada ou reformas institucionais, adotadas em países como México e El Salvador, resultaram em avanços limitados e polêmicos. O governo brasileiro, por sua vez, mantém resistência à participação militar em ações de segurança pública, temendo riscos de corrupção e desvio de função.
O crescimento das facções brasileiras no tráfico internacional coincide com o aumento global da produção de cocaína, que cresceu 35% entre 2021 e 2022, segundo a ONU. Países como Angola, Moçambique e Cabo Verde já sofrem os impactos dessa expansão, que também atinge Europa e Ásia.
A política de Trump possibilita também o uso de detenções semelhantes às realizadas em Guantánamo, onde suspeitos de terrorismo ficaram presos sem julgamento. Organizações como a Anistia Internacional denunciam abusos e tortura nesses casos, o que levanta preocupações sobre a extensão das novas medidas.
Além disso, Trump assinou outro decreto que reforça o papel do Comando Militar do Norte (USNORTHCOM) no combate a ameaças à soberania dos EUA. O documento prioriza o uso de forças armadas para repelir invasões relacionadas a tráfico de drogas, imigração em massa e tráfico de pessoas.
O PCC, por exemplo, aparece em relatórios da DEA como um dos responsáveis pelo envio de cocaína aos EUA, em parceria com cartéis mexicanos. Investigações indicam que faccionados utilizam rotas internacionais, infiltram-se em núcleos políticos e atuam como “soldados” do crime. Nos últimos anos, autoridades americanas registraram um aumento da presença desses criminosos no país, especialmente em Miami e Boston.
Trump reforçou, durante seu discurso de posse, o compromisso de usar toda a estrutura estatal para combater o tráfico e proteger os EUA: “Vamos erradicar essas ameaças ao nosso povo, às nossas instituições e à nossa segurança nacional.”