Minha teoria conspiratória sobre a eleição em SP

Desde a pré-campanha, Ricardo Nunes não parece disposto a se reeleger, esconde seu principal ativo eleitoral (Jair Bolsonaro) e parece pouco à vontade com o coronel Mello Araújo, vice oferecido pelo PL. Por trás de sua campanha, aparecem tradicionais lideranças da política paulista: Michel Temer, João Doria, Rodrigo Garcia, Gilberto Kassab, entre outros. Sempre que converso com bolsonaristas do núcleo duro, eles demonstram clara irritação com a falta de ‘punch’ de Nunes. Como é notório, Valdemar Costa Neto barrou Ricardo Salles e forçou a construção de um amplo arco de alianças partidárias em torno da candidatura do atual prefeito, mesmo que não seja sua intenção reelegê-lo.

Até pouco tempo atrás, as pesquisas indicavam que Nunes corria o risco de ganhar, mesmo parado. Eis que surge, então, Pablo Marçal. Com seu discurso radical e anti-sistema, capturou rapidamente uma boa parte do bolsonarismo que apoiava o emedebista a contragosto. Os mais fiéis, porém, preferiram expor seu encontro com João Doria e a contratação de um ex-assessor de confiança do tucano. Marçal partiu para cima de Nunes e Tabata com gosto. Dono de uma retórica hipnótica, poderia ter conquistado muitos votos sem agredir ou ofender, mas não foi o caso. Da socialista, seus ataques beiraram a misoginia e calúnias familiares, sem poupar referências ao suicídio do pai da candidata.

Se essa estratégia arrasta votos dos radicais, também atrai a resistência do eleitor menos militante. O efeito prático para a vítima desses ataques, normalmente, é inverso, gerando empatia. No caso de Boulos, por exemplo, o exorcismo com uma carteira de trabalho e acusação de cheirador de cocaína não tiraram sequer um voto do psolista, que até variou para cima na margem de erro e ainda se tornou mais conhecido como candidato na esquerda. Como na arte da guerra, a atuação dramática do coach divide a direita para fazer a esquerda governar. Macaquear Bolsonaro com motociatas é bem diferente de se solidarizar com presos, banidos e cassados. Se provocado a criticar Alexandre de Moraes, fala em arapuca e foge de entrevista. Estranho, para dizer o mínimo.

Hoje, o Metrópoles traz à tona mais elementos para análise: uma gravação em que Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, conversa com um interlocutor sobre a liminar que garantiu o controle do partido, vendendo fumaça sobre sua influência junto a Michel Temer e Alexandre de Moraes. Será mentira? A liminar foi, de fato, expedida pelo ministro, como mostra a reportagem. Garantiu, de fato, o domínio da legenda e vem viabilizando a candidatura de Marçal.  “Eu já tenho acordo com o ex-presidente, que me ajudou a construir isso desde março, o [Michel] Temer, com o Alexandre [de Moraes]… Ninguém imaginava uma intervenção, então construímos isso. Vou te mostrar as peças aqui, eu trocando ‘zapzap’ desde março. O Temer me chamou. (…) Ele perguntou: ‘Leo [Avalanche], como você vai assumir a intervenção, fazer a eleição para você mesmo assumir [a presidência]?’. Foi aí que o Luciano [Fuck] entrou [como interventor]”, diz Avalanche.

Resta entender que o citado Luciano Fuck vem a ser homem de confiança de Gilmar Mendes. Foi seu chefe de gabinete por anos, depois secretário-geral da Presidência do STF e do TSE, além de diretor de Assuntos Técnicos e Jurídicos do Senado, tudo pelas mãos do decano do Supremo. Hoje, além de professor no IDP de Gilmar, divide o escritório com um sobrinho do ministro. Se eu fosse aluno de Olavo de Carvalho, enxergaria nesses movimentos as pistas de uma articulação à la ‘teatro das tesouras’, destinada basicamente a entregar a Prefeitura de São Paulo a Boulos em troca da pavimentação da candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência em 2026. A direita permitida, como gostam de dizer os próprios bolsonaristas. O objetivo mais amplo, seria transformar a onda bolsonarista numa marolinha, afastando também o risco de um Senado anti-STF.

Bolsonaro o que ganharia com isso? Em pouco anos, uma anistia que lhe garanta a paz para voltar a pescar em Angra dos Reis. E o que fazer com Marçal? Ora, sua candidatura já está maculada pelo abuso de poder econômico que parece pênalti cavado. Fora as investigações que correm sobre as relações de aliados seus com o PCC. Pode-se dizer que será útil por um tempo.

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Claudio Dantas

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