Marina Silva é um agente da preservação ou do caos? A pergunta me vem à mente ao ler os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que indicam um recorde de incêndios na Amazônia durante sua gestão. Foram 140.328 focos no bioma em 2024, o maior índice anual desde 2007, quando o órgão registrou 186.463 queimadas. Naquele ano, Marina também comandava o Ministério do Meio Ambiente.
Questiono então de outra forma: Marina é apenas incompetente naquilo que se propõe a fazer a vida toda ou usa a fachada de ambientalista para destruir nossas florestas? Haverá uma agenda oculta? Seria como um bombeiro que causa incêndios para poder ser chamado a agir?
Não faz o menor sentido do ponto de vista político, já que seria um atestado de incompetência. Do ponto de vista econômico, é outra história. Essa ‘febre florestal’ abre terreno para o poderosíssimo mercado de recuperação de áreas degradadas. Lula já anunciou que sua meta – e a de Marina – é recuperar 12 milhões de hectares até 2030 e lançou, em dezembro, os primeiros editais para restauro de 146 mil hectares na Amazônia, um investimento de 100 milhões de reais.
Uma regra de três nos entrega cerca de 8 bilhões de reais para o cumprimento da meta, mas esse é um mercado escalável. Números apresentados pela rede MapBiomas no ano passado mostram que o Brasil possui entre 11% e 25% de sua vegetação nativa suscetível à degradação, o que corresponde a uma área que pode ir de 60,3 milhões de hectares até 135 milhões de hectares, incluindo todos os biomas. O fogo é um dos vetores principais de degradação.
Num evento em outubro, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, revelou que o governo estava estruturando uma operação de blended finance para levantar recursos à recuperação de áreas degradadas, com potencial para mobilizar mais de “uma dezena” de bilhões em investimentos.
Gigantes do mercado já se mobilizam no setor, como mostrei ontem com a operação de compra de terras da Apple no Brasil em parceria com a Symbiosis, empresa especializada na silvicultura de mata nativa com foco em espécies da Mata Atlântica, considerado o bioma mais suscetível à degradação hoje — com maior potencial de lucro, portanto.
Vale ressaltar que a recuperação de áreas de floresta degradadas está absolutamente conectada com o trilionário mercado de carbono — que acaba de ser regulamentado no país com sanção presidencial — e com o “estado de exceção climático” promovido por incêndios associados a um suposto aquecimento global. Lula até criou uma Autoridade Climática para cuidar exclusivamente do tema.
Apesar de ser vendido à sociedade como uma moeda limpa para reduzir emissões, o crédito de carbono parece mais um instrumento de domínio econômico sobre os recursos naturais e energéticos de países em desenvolvimento, impedido sua industrialização. Uma espécie de “moeda woke” que pode evoluir para um sistema de tributação global, como já vem sendo defendido por Lula e Fernando Haddad em fóruns internacionais.
É preciso cobrar da Polícia Federal que conclua logo seus mais de 80 inquéritos abertos no ano passado sobre esses milhares de focos de incêndios para que possamos compreender suas causas e responsabilizar os culpados diretos e indiretos. Se Marina é só incompetente, ainda é cedo para saber. Mas a pressão econômica por trás de um mercado do fogo parece cada vez mais evidente. Conseguir enxergar para além de tanta fumaça é um desafio.