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Brasil Paralelo é “extrema direita”? Boulos e Intercept alegam que sim

Por Eli Vieira

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) repostou no domingo (15) um vídeo do site The Intercept Brasil, de 27 de novembro, que acusa a produtora Brasil Paralelo de estar “invadindo as escolas brasileiras”. Como é hábito do site, a produtora foi classificada politicamente na “extrema direita”.

Boulos disse que foi inspirado pela “denúncia” a entrar com uma ação no Ministério Público Federal contra a produtora de documentários, sem especificar com que embasamento. “As narrativas ‘paralelas’ da extrema direita não têm condições de ser apresentadas em escolas”, afirmou.

Mas, como veremos, o vídeo de sete minutos e meio só pode ser classificado como um “sanduíche de coisa nenhuma”. Nenhum elemento é apresentado a favor da conclusão de extremismo político da Brasil Paralelo e, no cabo de guerra das influências políticas sobre instituições educacionais e culturais, os conservadores e liberais ainda estão em grande desvantagem.

Único conteúdo da BP usado pelo Intercept não tem nada de extremo

O vídeo do Intercept alega problema especialmente em um desenho produzido pela BP para crianças, chamado “Pindorama”. Segundo o vídeo, o programa infantil contém “aquela velha narrativa colonialista dos portugueses heróis que chegaram por aqui para trazer ‘progresso’ aos indígenas”.

Na abertura do primeiro episódio de “Pindorama” (publicado em junho), Filipe Valerim, sócio fundador da BP, explica que o programa “não é uma aula de história, mas carrega símbolos e imagens capazes de fazer com que as crianças admirem figuras importantes do nosso país”, e que “queremos que elas gostem de seu país”. Ora, a razão de ser da perspectiva conservadora é justamente que há motivos para a cultura a ser conservada ter orgulho de si mesma.

O desenho em si repete o aviso cauteloso de que ele é para entretenimento e para inspirar nas crianças admiração por heróis nacionais. “Essa história foi livremente inspirada na carta de Pero Vaz de Caminha”, diz o aviso.

A carta de Caminha de fato tem trechos inspiradores. Por exemplo, quando Pedro Álvares Cabral convidou os índios a entrar na caravela e comer na companhia da tripulação, um gesto de amizade e boa vontade.

Em outras palavras, o suposto “crime” da Brasil Paralelo é ser conservadora. É isso o que o Intercept chama de “extrema direita”.

A desvantagem da “direita”

Reuni abaixo três gráficos que mostram duas coisas importantes. Primeira, a população brasileira se identifica mais com a direita e o centro do que com a esquerda. Segunda, essa distribuição de crenças políticas dos brasileiros não é refletida pela maioria de opinião na imprensa e no mundo das universidades.

À primeira vista, o que esses números mostram é que, se há risco de um grupo tomar conta de instituições de ensino, sejam elas públicas ou privadas, esse grupo não é a direita.

Ora, se há tão poucos jornalistas de direita no país, um veículo de mídia de linha editorial conservadora como a Brasil Paralelo é mais uma exceção que uma regra. Mas nem mesmo essa exceção será tolerada pelo lado socialista-progressista-identitário do espectro político, a julgar pelos planos de Boulos de acionar a justiça porque, em suma, a minoria de instituições de direita na educação e na mídia do país fazem colaborações entre si.

Importante lembrar que a suposta influência indevida da BP está em instituições privadas, que têm liberdade para ter seus próprios alinhamentos políticos. Enquanto isso, a influência da esquerda no país com frequência extrapola a linha que deveria ser rígida entre público e privado.

Uma lista nada exaustiva de conteúdos claramente ideológicos sendo promovidos com dinheiro de impostos no país:

  • As teses que ganham o Prêmio CAPES com frequência têm temas ideológicos como “feminismo aplicado à Bíblia”, como mostrou a Gazeta do Povo.
  • O Senado está investigando um estudo da USP que apontou que 60% das menções ao agronegócio nos materiais didáticos são negativas.
  • O ENEM já teve inúmeras perguntas que presumem o viés ideológico progressista. Por exemplo, o autor favorito da esquerda latino-americana, Eduardo Galeano, já fui usado na prova.
  • Ao menos 13 universidades públicas permitiram cursos que pregavam que o impeachment de Dilma Rousseff foi um “golpe”, interpretação exclusiva da esquerda sobre o evento histórico.

Muitos desses fatos aconteceram ainda durante o governo Bolsonaro, o que mostra o domínio da esquerda sobre instituições públicas mesmo quando o governo é de direita.

O “sanduíche de coisa nenhuma” do Intercept

O vídeo apresenta — com músicas sinistras de fundo para sugerir conclusões — escolas particulares que adotaram o material da produtora não como material didático principal, pois a BP não produz isso, mas como complementos didáticos — vídeos exibidos em sala de aula a gosto dos professores.

O Intercept tenta convencer que há algo de muito sinistro em um programa de assinaturas mais caras da BP, chamado “Mecenas”, em que os assinantes doam assinaturas para pessoas de baixa renda. As assinaturas são administradas por entidades privadas. O Instituto Conhecimento Liberta, de esquerda, tem um programa quase idêntico em que assinantes podem doar “bolsas de estudos”.

Uma das entidades privadas que administra assinaturas doadas para a BP é o Instituto RECEBS, de Natal, ligado a um centro universitário privado com sede no Rio de Janeiro. O Intercept tenta uma manobra falaciosa chamada culpa por associação com um vídeo de Bolsonaro elogiando o RECEBS, que promete resgatar a “educação clássica no ensino básico e superior” e “cultivar o amor a Deus, à família e à pátria”.

Se uma conexão indireta com Bolsonaro faz da BP uma empresa de “extrema direita”, o que o Intercept tem a dizer sobre a aproximada metade dos brasileiros que votaram nele em 2022? Metade do país é extrema?

O vídeo também faz alarde de um material para o ensino em casa (homeschooling) reunido pelo instituto. Mas a entidade educacional avisa que a prática, em substituição à escola, não é regulamentada no Brasil. Se desconfiar da educação oferecida pelo Estado, com seus vários sinais de influência da esquerda, faz alguém ser de extrema direita, mais uma vez uma parte enorme não só dos brasileiros, mas de cidadãos de países que permitem o homeschooling, será rotulada como extrema, o que não parece generoso ou plausível.

Disputa tribal disfarçada de debate político

O adjetivo “extrema”, aplicado à direita ou à esquerda, é uma opinião, apesar de alguns pensarem que encontraram uma forma objetiva de fazer essa rotulação. No contexto de polarização e dominação do debate político por instintos de tribo que sempre nos acompanharam, chamar de extremo é uma forma de reafirmar a rejeição ao grupo visto como inimigo.

Como disse há uma década o ensaísta e psiquiatra americano Scott Alexander (pseudônimo), “posso tolerar qualquer coisa, exceto o grupo externo”. E afirmar que tudo o que vem do outro grupo (da outra tribo) é “extremo” é uma forma de intolerância. A aparência pode ser de intelectualidade na política, mas a realidade é de guerra de clãs irrefletida.

A primeira pergunta que se deve fazer a quem acusa extremismo na posição política de outrem é “o que é a versão moderada disso para você, então?” — a resposta, se houver alguma, pode revelar que a única versão de moderação que a pessoa conhece é a concordância completa com suas próprias crenças políticas.

Então, editores do Intercept, deixo a pergunta: se a Brasil Paralelo é extrema direita, o que é direita moderada para vocês?

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Eli Vieira

Eli Vieira

Respostas de 4

  1. Olavetes são, à sua própria maneira, tão extremistas quanto a turma do Lula.

    Eu conheci o Olavo de Carvalho, e a única diferença entre ele e a turma do Lula é que ele se dizia de Direita.

    Conseguiu brigar até com o Júlio Severo.

    Eu não confiaria neles se eu fosse você.

  2. Nao se trata de ser de um time ou outro. É uma questão de economia, so um idiota nao vê o erro que o BR caiu. Prefiro a tosquisse dos bolsonaristas que a desgraça, de novo!, do pt e seus capachos. Porque a minha familia inteira sofre, simples né! Pela reação dos corruptos, até parece que o Bolsonaro mexeu com algo sim e a economia dirigida pelo Guedes, que era tosco né, até um tosco faz melhor né! Estava em ótimo rumo! Fatos e a realidade se impõem ! O resto é safado querendo e mantendo boquinha!

  3. Olá Eli, boa noite.

    Eu venho percebendo que no debate público, não existe a “direita”, apenas a “extrema-direita”. Em qualquer lugar controlado pela esquerda como a imprensa e as universidades, qualquer ponto de vista “conservador” é chamado de “reacionário” e um argumento que fundamente algo associado à direita, geralmente recebe a rótulo de “extrema-direita”. Ou seja, para o esquerdista, o espectro político conhecido como de direita deve ser um nicho restrito a alguns intelectuais, porque o grosso da população, desde a “tia do zap” até o eleitor de Jair Bolsonaro é extrema-direita.

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